A rádio estava escondida na proposta do
Sérgio Figueiredo que em 1997 me
levou para o Diário Económico. O
jornal pertencia a Miguel Paes do Amaral, juntamente com o Independente, Grupo Media
Capital, e Sérgio Figueiredo tinha o projecto de construir, a partir do Económico, uma redacção multimédia para
jornal, rádio e TV. Cheguei a fazer o projecto de conteúdos para uma estação de
rádio, em cima da data para concorrer a determinada frequência de radiodifusão.
Um administrador anunciou à redacção:
- Ganhámos
a frequência de rádio, o que ficamos a dever ao João Paulo Guerra.
Ao que respondi que só ficavam a dever se
não quisessem pagar e de facto não deram sinal de querer.
O projecto continuou a crescer, embora com muitas hesitações e recuos, principalmente quando o Sérgio deixou a direcção e se instalou com um escritório no Rossio. E muita gente passou por ele no Rossio. Os administradores delegados para a rádio na Media Capital não quiseram encarar a hipótese de criar a primeira rádio na internet em Portugal e ficaram presos a uma frequência com pouco alcance e desfocada em relação ao habitat de uma população interessada numa rádio de informação económica. E um dia o administrador delegado convocou-me para me anunciar que não pensavam em mim para director da rádio mas… Mas tinham um cargo que certamente me interessaria: consultor japonês!!!
O projecto continuou a crescer, embora com muitas hesitações e recuos, principalmente quando o Sérgio deixou a direcção e se instalou com um escritório no Rossio. E muita gente passou por ele no Rossio. Os administradores delegados para a rádio na Media Capital não quiseram encarar a hipótese de criar a primeira rádio na internet em Portugal e ficaram presos a uma frequência com pouco alcance e desfocada em relação ao habitat de uma população interessada numa rádio de informação económica. E um dia o administrador delegado convocou-me para me anunciar que não pensavam em mim para director da rádio mas… Mas tinham um cargo que certamente me interessaria: consultor japonês!!!
No Diário
Económico fui editor do noticiário nacional, redactor-principal,
grande-repórter – voluntariamente reportei todas as campanhas eleitorais
autárquicas enquanto lá estive e, também como voluntário, fui para Timor em Setembro de 1999. Ou melhor, fui para
Darwin, no litoral norte da Austrália; para Timor desenrasquei depois uma
viagem no voo que transportou uma equipa de médicos búlgaros.
E de lá reportei a cidade de Díli deserta e o regresso dos timorenses às suas ruínas fumegantes, a vida em Dare, na montanha dos timorenses refugiados, e em Ermera, a região do café de Timor saqueada pelos capatazes dos ocupantes e depois arrasada, obrigando os timorenses a começar de novo. No regresso juntei todas as crónicas que enviei de Darwin e de Dili num texto único, acrescentando um capítulo à reedição que saiu em 2000, pelo Circulo de Leitores, de O Regresso das Caravelas: Viagem ao fim do império.
E de lá reportei a cidade de Díli deserta e o regresso dos timorenses às suas ruínas fumegantes, a vida em Dare, na montanha dos timorenses refugiados, e em Ermera, a região do café de Timor saqueada pelos capatazes dos ocupantes e depois arrasada, obrigando os timorenses a começar de novo. No regresso juntei todas as crónicas que enviei de Darwin e de Dili num texto único, acrescentando um capítulo à reedição que saiu em 2000, pelo Circulo de Leitores, de O Regresso das Caravelas: Viagem ao fim do império.
Banco em Díli incendiado e saqueado |
Quando estive em O Diário, escrevi reportagens sobre os desertos da Ásia Central, e
sobre Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné, Costa do Marfim, os
Congos e o Egipto. Pela Emissora Nacional,
em 1974, reportei de Bissau e das zonas ocupadas pela guerrilha na Guiné, em
Canjambari, bem como a saída dos movimentos emancipalistas da clandestinidade
em Cabo Verde. E de todas essas andanças pela lusofonia nunca hei-de esquecer o
Luís Lázaro, que conheci no Hospital Central de Maputo, em 1988:
O Luís Lázaro |
(…)
Que
me desculpem a emoção, que é coisa que não está prevista nos manuais de
jornalismo. Mas quem é que quer saber dos manuais de jornalismo diante do corpo
mutilado de uma criança de três anos?
Ateliê de Malangatana nos arredores de Maputo |
Mas foi pelo Diário Económico que viajei até ao Fim do Império e registei as palavras de um padre católico, Hermenegildo de Deus, da diocese de Díli:
"É difícil dizer a uma mãe que perdeu todos os filhos que, quando se leva uma bofetada, devemos dar a outra face".
A casa dos jornalistas na área de Motael, Díli |
Deixei Díli com os habitantes regressados às suas ruínas, naquela ilha rodeada de dor por todos os lados. A derradeira imagem que conservo é a de crianças no bairro de Comoro que perderam toda a família na onda de violência de Setembro de 1999 e que foram acolhidas pelas irmãs Carmelitas. Cantam, quando passo por elas a caminho do aeroporto. Cantam uma cançaõ que fala do sofrimento de um país de montanhas rodeado de mar, um país a construir. Chamam-lhe Timor Lorosae.
Em Díli, como enviado de um jornal que saía de segunda a sexta, senti como nunca a importância da rádio. Assistira em Portugal a poderosas manifestações reclamando o envio de tropas da ONU para travarem o tsunami de barbárie que se abatera sobre o território. Estava em Darwin quando os navios australianos avançaram para Díli com tropas, era um sábado, o meu jornal só saía daí a dois dias e houve um momento em que eu era o único jornalista a testemunhar aquele momento. Liguei para casa e fiz a "reportagem" para a atendedor de chamadas, em Lisboa.
Em Díli, como enviado de um jornal que saía de segunda a sexta, senti como nunca a importância da rádio. Assistira em Portugal a poderosas manifestações reclamando o envio de tropas da ONU para travarem o tsunami de barbárie que se abatera sobre o território. Estava em Darwin quando os navios australianos avançaram para Díli com tropas, era um sábado, o meu jornal só saía daí a dois dias e houve um momento em que eu era o único jornalista a testemunhar aquele momento. Liguei para casa e fiz a "reportagem" para a atendedor de chamadas, em Lisboa.
No Económico, entre 18 de Outubro de 1999 e 31 de Julho
de 2008 escrevi de segunda a sexta, em dado período também ao sábado, excepto
quando estava fora em reportagem, os mil e tal caracteres da Coluna Vertebral. Quando saiu em livro
uma compilação das crónicas da Coluna
Vertebral – Diz que é uma espécie de
democracia / Reflexões sobre um País no Divã –, Oficina do Livro, 2009,
Filipe Santos Costa fez a recensão do livro no Expresso, sob o título: Crónicas
do Fartote. E explicou porquê:
«Viagem
a dez anos, quatro governos, muita miséria e pouca grandeza.
«Vamos
a meio do livro quando o autor confessa a abundância de matéria-prima. "O
poder reinante em Portugal pode ser acusado de tudo. Mas de uma coisa ninguém
poderá acusar a classe política: de não ser uma permanente fonte de inspiração
para articulistas, cronistas, colunistas, comentadores, analistas, críticos e
humoristas. Em Portugal, hoje em dia, poderá faltar quase tudo, mas, entre o
drama e a comédia, é um fartote de acontecimentos da maior originalidade."»
A Mosca picava aos sábados, Diário de Lisboa, 1969 |
Sempre fui dado à escrita e à leitura:
cresci entre livros, que a minha mãe nos lia, a mim e à minha irmã, depois
livros que nós líamos. E as palavras eram brinquedos na nossa infância e
adolescência. Trabalhei e ganhei a vida com palavras, na rádio e em jornais.
Do desenvolvimento de algumas investigações que fiz como jornalista publiquei livros desde os anos 80, entre os quais:
Polícias
e Ladrões (Editorial Caminho, 1983); Os
Flechas Atacam de Novo (Caminho, 1988); Memória
das Guerras Coloniais (Afrontamento, 1994 - 1ª edição, 1995 - 2ª edição); Savimbi Vida e Morte (Bertrand, 3
edições em 2002); Descolonização
Portuguesa – O Regresso das Caravelas (Dom Quixote, 1996 - 1ª edição, 2ª
edição Círculo de Leitores, 2000, reedição, revista e aumentada (Oficina do
Livro, 2009); Diz que é uma espécie de
democracia, crónicas (Oficina do Livro, 2 edições em 2009).
Do desenvolvimento de algumas investigações que fiz como jornalista publiquei livros desde os anos 80, entre os quais:
Foi a maneira que encontrei para que o meu
trabalho não fosse apenas ouvido fugazmente na rádio ou lido num jornal deitado
fora ao fim do dia.
Mas eis que em 2005 – ia quase em dez anos
afastado da rádio e caminhava comodamente para a reforma – recebo uma chamada
telefónica que despertou em mim o velho e enraizado alvoroço: o Rui Pego
convidava-me para fazer parte de um painel de antigos radialistas que contariam
aos microfones da Antena 1 memórias
dos seus Dias da Rádio. Escusado será
dizer que lhe disse que sim antes do director da Antena 1 acabar de me apresentar a sua proposta. E assim foi a I
dinastia de Os Reis da Rádio: Jaime
Fernandes, José Ramos, Júlio Isidro, José Nuno Martins e João Paulo Guerra.
Bom dia e boas notícias |
A mudança de dinastias foi em 2006. Quando
fui “destronado” de Os Reis da Rádio
já tinha o convite do Rui Pego para fazer “uma revista de imprensa com
assinatura”.
Estava na rádio e para ficar.
(continua)
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