O capitão Salgueiro Maia tinha 29 anos e todas as ilusões da
sua geração quando, em 25 de Abril de 1974, veio de Santarém a Lisboa à frente
de 240 homens numa coluna de 10 carros de combate. Em cerca de 12 horas
derrubou um regime de 48 anos. Fez o que tinha a fazer e regressou á Escola
Prática de Cavalaria.
Licenciado em Ciências Sociais e Políticas e em Antropologia, Fernando
José Salgueiro Maia, 47 anos [em 1992], tenente-coronel de Cavalaria, comanda o Grupo de Comando e Serviços da Escola Prática de Santarém e dirige o
Museu da Cavalaria. Não quis, como capitão de Abril, as estrelas da Revolução,
tal como não quer a baixa ao Hospital Militar que a doença grave de que padece
justificaria. Mantém-se no activo e não se queixa por si mesmo, mas por toda
uma geração de “implicados no 25 de Abril”.
Salgueiro Maia – Quando digo
implicados, quero referir-me a todos aqueles que se as coisas tivessem corrido
mal não podiam dizer que não sabiam de nada. Estamos a ser
marginalizados desde 1976. Chegámos a estar nove oficiais do Movimento
desterrados nos Açores.
P.
– Costuma dizer-se que os revolucionários são devorados pelas revoluções. A
revolução dos capitães foi devorada pelos majores, coronéis e generais?
S.M. – Não, não é isso. A
marginalização é da responsabilidade do poder político. Em paralelo com a
marginalização da nossa geração, foi extinta a Comissão do Livro Negro do
Fascismo, foi extin
ta a Comissão do Museu da Revolução, a Assembleia da República
deixou, a partir do ano passado [1991], de convidar a Associação 25 de Abril
para as comemorações do 25 de Abril, a Associação foi despejada do Forte do
Alto do Duque, com o argumento de que as instalações eram precisas. Claro que
as instalações deixaram de ser necessárias depois do despejo e foram cedidas a
uma associação que, por acaso, comemora o 28 de Maio. Tudo isto indica que
agora que o 25 de Abril vai atingir os 18 anos, a idade adulta, nós possamos
ser julgados. O que, pelo menos, nos daria a vantagem de ficarmos a saber qual
seria a duração das penas.

P.
– Dizia-se em 1974, sempre que alguma coisa corria mal: “Não foi para isto que
se fez o 25 de Abril”. É isso que está a querer dizer?
S.M. – Não. O 25 de Abril é
a utopia da liberdade e da democracia e nós temos a liberdade e a democracia
possíveis. Mas temos também esta situação caricata dos responsáveis do 25 de
Abril a serem tratados como marginais. Entrámos para a Academia Militar com
acesso ao posto de coronel. Desde 1 de Janeiro, só podemos chegar a
tenente-coronel. Nós, que servimos para comandar unidades há 18 anos, não
servimos agora para coronéis.
P.
Mas há formas de acesso, embora mais restritas, ao posto de coronel.
S.M. – Há determinados
cursos e uma escala valorativa, mas esse não é o problema. Toda a escala é um
critério. A gravidade é que ele deveria aplicar-se a todos os indivíduos de
igual modo. E a minha geração, que já não tem idade para frequentar
determinados cursos, é surpreendida com esta decisão e marginalizada, mais uma
vez.
P.
– Foi uma geração que ficou marcada por ter feito a revolução?
S.M. – Os cursos que
entraram para a Academia em 1963, 64 e 65 foram a base do MFA. Foi a partir do
início da guerra que a Academia Militar passou a abrir a porta. E os que
entravam, sabendo-se que estávamos em guerra, iam para a Academia por
idealismo, sabiam que se iam sacrificar, que iam para a guerra. Mas o
idealismo, aliado à generosidade e ao espírito de contestação dos anos 60,
predispunha para dar a volta ao texto. Em 1974 encarámos o risco: vamos ou não
vamos? Optámos por arriscar, mesmo não sabendo o que vinha a seguir. É que,
para nós, não queríamos nada.
P.
– A passagem pela guerra colonial foi decisiva?
S.M. – Fiz a primeira
comissão em Moçambique, em 1966-68, como alferes. Em geral, os oficiais do
Quadro iam como capitães, pelo que toda a gente me tomava por miliciano e
falava comigo com grande abertura. Essa abertura foi o primeiro dado que me
levou a pensar que a guerra não tinha solução. Como era o primeiro do meu curso
podia escolher a colocação e escolhi uma companhia de Comandos. A vida no mato
e a participação na guerra mostraram-me uma outra realidade: o trabalho
forçado, os castigos corporais, o racismo, tudo o que fazia parte do dia-a-dia
do sistema colonial e que era a negação do que a propaganda do regime dizia.
Não tive dúvidas de qual seria o fim da história. Depois estive na Guiné, já
como capitão, e o contexto militar era bem pior. Só encontro paralelo com o
cenário do filme “Platoon”.
P.
– Um cenário de derrota militar?
S.M. – Só não era de
completa derrota devido à capacidade de resistência do soldado português.
P.
– E foi na Guiné que aderiu ao Movimento dos capitães?
S.M. – Entrei para o
Movimento na Guiné, e quando regressei, em Setembro de 1973, foi nomeado
representante da Cavalaria, até porque era, dos oficiais da arma de Cavalaria
envolvidos, o capitão mais antigo. E era importante que os problemas de
antiguidade não quebrassem a estabilidade do Movimento.
P.
– E foi assim que no dia 25 de Abril apareceu como a face visível do Movimento,
a comandar a operação decisiva?
S.M. – Fui eu que comandei a
coluna de Santarém pela simples razão de que não havia mais voluntários. Eu
tinha assegurado á Coordenadora que avançava para conquistar o coração de
Lisboa com 48 horas para me preparar. De resto, o Movimento assentava num grupo
de vinte e tal oficiais, designado por Coordenadora e escolhido por votação
entre cerca de 200 oficiais, que executou toda a acção do 25 de Abril. Também
decidimos, numa votação, que para o exterior apareceria um cabeça-de-cartaz, o
Otelo, e que os outros ficavam na expectativa para intervir, se fosse
necessário, naquilo que sabiam fazer, que era no plano militar, para garantir
que se pudesse viver em liberdade e em democracia.
P.
– Saiu de Santarém para Lisboa com um plano?
S.M. – O plano era não dar
nas vistas.
P.
– Não dar nas vistas com 240 homens e 10 viaturas não era fácil…
S.M. – Nos últimos tempos,
todas as semanas eu saia com uma coluna, a meio da noite, para que quando
saísse a sério se pensasse que era rotina. Mas eu sabia que andava a ser
vigiado. Havia um legionário em permanência junto à minha residência e um
“pide” à porta do quartel. Até nos dava prazer despistar os tipos. Mas nós
estávamos decididos. Dali só para diante.
A
revolução ganha pela rádio
P.
– Antes da acção do Movimento, em Abril, houve o 16 de Março. O que foi? Uma
falsa partida?
S.M. – O 16 de Março não tem
nada a ver com o Movimento das Forças Armadas. Um grupo de oficiais, que sabia
que as coisas estavam a andar, avançou para liderar o processo. Eram oficiais
na generalidade ligados a Spínola. Não tenho provas se o general teve
conhecimento ou não, mas creio que não. Na Escola fomos avisados: “Estamos a
marchar para Lisboa. Venham connosco”. Mas não tínhamos capacidade para sair
com eles. Só para municiar uma viatura blindada demorava horas. Já depois do
fracasso do 16 de Março, fomos mandados cercar as Caldas da Rainha.
Propositadamente, demorámos oito horas de Santarém às Caldas. Um homem pôs um jipe na valeta. Enquanto se tirava o jipe da valeta,
outro esvaziou um pneu. Mesmo assim, no
regresso a Santarém os soldados queixavam-se de que a população lhes tinha chamado
cobardes e maricas por não terem aderido. Foi por isso que tantos me seguiram
quando saí para derrubar o regime. E eram todos voluntários.
P.
– Como é que os homens manifestaram a disposição de participar?
S.M. – Formei os homens na
parada do quartel e disse-lhes qualquer coisa como isto: "Há diversas
modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o
estado a que isto chegou. Nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que
isto chegou. De maneira que quem quiser vem comigo para Lisboa e acabamos com
isto. Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica
aqui." Vieram 240 voluntários.
P.
– E no dia 25 de Abril vieram bem mais depressa de Santarém para Lisboa do que
tinham ido para as Caldas. Foi um passeio?
S.M. – Passados todos estes
anos, as pessoas pensam que o regime caiu de podre. Também é verdade mas não
foi só isso. Fomos nós que o fizemos cair, embora com uma força que, na verdade,
não existia.
P.
– A força que comandou era de 240 homens. Era muito? Pouco? Nada?
S.M. – Desses 240 homens,
cerca de 200 eram instruendos dos cursos de oficiais e sargentos milicianos,
tinham entrado em Janeiro e, com três meses de instrução, se tivessem que dar
tiros corria-se o risco de se matarem uns aos outros. As viaturas eram
obsoletas, da II Guerra Mundial. Eu tinha algumas sem motor de arranque que, se
parassem, não voltavam a andar, outras que não tinham granadas, uma
auto-metralhadora que não tinha metralhadora: atou-se, com arames, uma
metralhadora normal, porque a de origem já não existia. O êxito deve-se,
essencialmente, à surpresa e à nossa capacidade para dominar a comunicação
social. Se a I República se ganhou pelo telégrafo, o 25 de Abril ganhou-se pela
rádio.
P.
– Mas a população fez precisamente o contrário das recomendações dadas pela
rádio para que ficasse em casa…
S.M. – Foi a coisa mais
extraordinária que aconteceu. Passados estes anos, e quando leio as Crónicas de
Fernão Lopes, verifico que o contexto é o mesmo. Nós estávamos dispostos a derrubar
o regime e o povo veio para a rua dar-nos razão.
Um
plano de resistência em Santarém
P.
– Quando saiu de Santarém foi para ganhar uma guerra ou foi á aventura?
S.M. – O nosso objectivo
principal era mostrar ao País que o regime perdera o seu pilar militar, tal
como estava a perder o da Igreja. Se as coisas corressem mal em Lisboa, nós,
pelo menos a tiro, abríamos caminho de volta a Santarém, onde teríamos condições
para resistir, entrincheirados, dando tempo para mobilizar a opinião a nível
nacional e internacional. O plano estava todo traçado: cortar o
caminho-de-ferro Lisboa – Porto, a Estrada Nacional, as ligações telefónicas e
o abastecimento de água à capital. Queríamos demonstrar ao País que o pilar
militar estava a retirar o apoio ao regime. O regime assentava na religião e na
tropa. Se o regime perdesse o apoio da tropa e da Igreja seria natural que o
povo tomasse o seu destino nas mãos. E depois, também estávamos convencidos de
que muitos dos nossos camaradas, capazes de roer a corda no 25 de Abril, não
conseguiriam disparar sobre nós.
S.M. – Nós corríamos dois
perigos: o primeiro era não ganhar e isso implicaria sermos considerados
traidores à Pátria. Pelas leis vigentes poderíamos ser fuzilados. O segundo era
ganhar continuando com o problema de fundo. Nós não éramos significativos no
contexto militar, não tínhamos garantias de que, ganhando, passaríamos a viver
em liberdade e em democracia. Mas mesmo assim assumimos um compromisso: pela
primeira vez, um grupo de militares propôs-se derrubar o poder e não se
substituir a esse poder. Não queríamos encontrar um “salvador da Pátria”.
P.
– Mas as coisas correram bem em Lisboa, apesar de alguns momentos de grande
tensão?
S.M. – O momento decisivo
foi no Terreiro do Paço, quando o brigadeiro Junqueira dos Reis, que comandava
a força que nos interceptou, deu ordem: “Dispare sobre aquele homem”. Aí, eu tinha duas opções: ou tentava fugir, mas com isso incentivava o instinto do
caçador, ou ficava quieto. Foi o que fiz e funcionou. Primeiro, o alferes
comandante do pelotão de carros recusou-se a atirar e foi preso. O brigadeiro
deu-lhe voz de prisão, ali mesmo. Depois, o brigadeiro foi à torre do carro de
combate e disse para o apontador, que era um cabo: “Dispare sobre aquele
homem”. E o cabo não disparou. E quando um brigadeiro deu aquela ordem de fogo
e um cabo não disparou, aí fez-se o 25 de Abril. Foi o indicador de que a
situação era irreversível.
P.
– Antes desse episódio ainda tentou resolver a situação pelo diálogo. No plano
das armas não tinha condições para vencer?
S.M. – Nós fomos sendo
cercados, no Terreiro do Paço, por forças da Guarda Republicana e da Polícia.
Até que apareceu um pelotão de carros de combate. E nós não tínhamos armas
anti-carro. Não tínhamos armas para combater os carros de combate que nos
fizeram frente. Qualquer deles teria resolvido a situação militarmente. Por
isso pedi para dialogar com o comandante das forças a avancei ao seu encontro.
Mas levava uma granada no bolso. Se fosse preso, sem conseguir safar-me, o meu
futuro não seria nenhum. Accionava a granada e íamos todos. Antes isso que ser
preso e aparecer, mais tarde, numa Praia dos Cães qualquer.
P.
– E do Terreiro do Paço seguiu directo para o largo do Carmo?
S.M. – Soubemos que o
Marcelo Caetano estava no Quartel da GNR no Largo do Carmo. Mas nós não
sabíamos o caminho para o largo do Carmo. Foram os populares que nos guiaram a
partir do Rossio. Chegámos ao Largo do Carmo e toda a gente das redondezas
queria ajudar, diziam-nos que do seu terraço, ou da sua janela, se via tudo
para o interior do Quartel. O Quartel estava fechado, com armas à vista para se
defender e nós não tínhamos armas para actuar contra eles. As únicas granadas
que levávamos tinham um raio de acção de 200 metros. O Largo tem 70. Se eu
disparasse uma única granada fazia umas centenas de mortos.
P.
– Mas as suas tropas chegaram a abrir fogo.
S.M. – Arranjei-lhes um alvo
suficientemente amplo para ter a certeza que lhe acertavam com a metralhadora.
Mandei disparar para o telhado, até porque no telhado não estava ninguém. A
minha preocupação era não haver baixas. A morte reproduz-se em progressão
geométrica e o importante era não começar. E então mandei abrir fogo para o
telhado. Assim que disparámos os primeiros tiros os militares da Guarda
Republicana começaram aos berros dentro do Quartel: “Misericórdia. Não
disparem. Nós rendemo-nos”. Estava feito.
P.
– Quando, a meio da tarde, após várias horas de tensão, entrou no Quartel do
Carmo, que imagem encontrou de um poder com 48 anos?
S.M. – Antes de entrar no
Quartel do Carmo disse para as minhas tropas que se não voltasse dentro de 15
minutos arrasassem o Quartel. Claro que não podíamos arrasar coisa nenhuma. Era
para os que estavam lá dentro ouvirem.
P.
– Levava a granada de mão no Bolso?
S.M. – Levava, claro.
Quando, já dentro do Quartel, me dirigia para a zona onde estava Marcelo
Caetano, ouvi um barulho que parecia de crianças a chorarem. Afinal, eram os
ministros Rui Patrício e Moreira Baptista com ataques de histeria.
P.
– E Marcelo Caetano?
S.M. – Marcelo Caetano
estava sozinho no gabinete, pálido, a gravata a três quartos, barba por fazer
mas, pelo menos, com dignidade. Fiz-lhe a continência militar e disse-lhe: “Sou
o comandante das forças sitiantes, venho exigir a sua rendição incondicional.
Se ela não for obtida, o senhor é o responsável pelas mortes que possam ocorrer”.
Ele disse-me que já não governava e que esperava ser tratado com a dignidade
com que sempre vivera. E que desejava um general a quem entregasse o poder,
para que o poder não caísse na rua. Eu disse-lhe que ia contactar o meu PC
[posto de comando]. E ele: “Quem é o PC?”. Respondi-lhe que era um conjunto de
oficiais generais. E ele disse-me que já falara pelo telefone com o general
Spínola e que este lhe respondera que não tinha nada a ver com o Movimento.
P.
– Acabou por ser Marcelo Caetano a participar na escolha, ou a escolha de
Spínola foi do Movimento?
S.M. – Nós tínhamos, por uma
votação, designado o general Costa Gomes. Só que, no próprio dia 25 de Abril,
ele não estava em casa. Posteriormente soubemos que se encontrava no Hospital
Militar. Mas como o Posto de Comando não encontrava o general Costa Gomes
entrou em contacto com o general Spínola a dizer-lhe o que se passava. Que o
homem, para se render, queria um general. Então que avançasse o general
Spínola. Foi isso que aconteceu.
P.
– Foi uma revolução um pouco bizarra…
S.M. – Para nós era
importante que Marcelo Caetano se rendesse, para tirar todo o argumento a quem
nos pretendesse acusar de termos usurpado o poder. Por isso, a minha
preocupação foi que ele abdicasse do poder e o transmitisse formalmente. Porque
o poder, de facto, éramos nós que o tínhamos nas mãos. Há um pormenor desse momento que
nunca mais esqueço e que tem algum significado. Na altura da conversa com Marcelo
Caetano, eu ouvia ao mesmo tempo o barulho das águas a correrem pelo vão dos
elevadores do Quartel…
S.M. – Quando disparámos
para o telhado para os levar a renderem-se tínhamos rebentado com os depósitos de
água… E então ouvia barulho das águas a correrem e a multidão, cá fora, a
cantar o Hino Nacional. E por acaso até nem desafinava. Depois, transportei
Marcelo Caetano num carro blindado, a chaimite Bula, e testemunhei o ódio que
ele viu nas pessoas que estavam á volta do Quartel. Creio que foi por isso que
ele escreveu, nas suas memórias, que nem depois de morto queria regressar a
Portugal.
P.
– E os ministros?
S.M. – Também iam na Bula.
Estavam convencidos que iam ser fuzilados.
E
depois do Adeus
P.
– Toda a gente sabe onde esteve no dia 25 de Abril. Onde estava no 28 de
Setembro, no 11 de Março, no 25 de Novembro?
S.M. – Mantive sempre
diálogo com todos os camaradas, mesmo no meio das maiores divisões. Quando
vinha de Santarém a Lisboa, ora ficava no Regimento de Comandos, com o Jaime
Neves, ora no Ralis, com o Dinis de Almeida. Pertenci ao grupo dos operacionais
que ganhou corpo com aquilo a que se chamou o Grupo dos Nove, o núcleo que se
manteve mais coeso desde o 25 de Abril. A seguir ao 11 de Março fui perseguido
por determinado partido…
P.
– Qual?

P.
– A chamada “sociedade civil” fazia um grande cerco aos militares?
S.M. – Ainda me dá gozo
ouvir alguns políticos falarem da “sociedade civil”, quando eles próprios foram
dos que mais namoraram os militares. Todos os partidos tentaram contar
espingardas. Mas, desde 1976, todos os que procuraram apresentar-se como pais
da revolução começaram a querer alijar a carga. E ao cabo destes 18 anos, em
que julgo que estamos a atingir a maioridade, e que até já podemos ser acusados
e presos por implicação no 25 de Abril, se não fosse o problema de saúde que me
afecta, provavelmente o lugar para mim seria mesmo no exílio.
Certamente que nem tudo foram rosas na
Revolução dos Cravos. Mas pela pureza das intenções e pela coragem do jovem
capitão, pela dignidade com que recusou os holofotes da revolução mediática, as
benesses do novo regime e as estrelas do generalato, Salgueiro Maia merece
continuar a ser a face da pureza do 25 de Abril. Por mim, como jornalista, não
esqueço que foi também para que eu escrevesse, e escreva, livremente, que ele
avançou das ruínas do Convento de S Francisco, em Santarém, para derrubar
outras ruínas.

Fernando José Salgueiro Maia morreu em 4 de Abril desse ano.
Texto João Paulo Guerra, fotos de Salgueiro Maia em 1992 da autoria de Luís Silva.
Texto João Paulo Guerra, fotos de Salgueiro Maia em 1992 da autoria de Luís Silva.
4 comentários:
Grande capitão. Que pena não haver mais como ele. E que vergonha para a cambada de oportunistas da classe política.
Excelente entrevista! Importante página da nossa História contemporânea na pureza das palavras do verdadeiro e genuíno protagonista do 25 Abril!
Encontrará neste blogue outras páginas da nossa História contemporânea.
É e será sempre o espírito puro dos objectivos da Revolução, talvez o único. Os restantes com exceções Ramalho Eanes, Jaime Neves e poucos mais foram instrumentos de politiquices.
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