Por João Paulo Guerra,
Diário Económico,
Fevereiro de 1998
Diário Económico,
Fevereiro de 1998
A PIDE assassinou o general Humberto
Delgado, em 13 de Fevereiro de 1965, cumprindo o plano da Operação Outono. A condenação em tribunal comprovou que a PIDE matou o general. Mas a PIDE não conspirou sozinha para
atrair o general a uma cilada e matá-lo.
O
cerco ao general Humberto Delgado foi montado pela PIDE com recurso a agentes e
meios estabelecidos no estrangeiro, particularmente na cidade de Roma.
Tudo
começou em 17 de Junho de 1962 com uma carta datada da capital italiana,
dirigida ao ministro português do Interior, Alfredo Santos Júnior, denunciando
alegados planos do general para uma acção revolucionária em Portugal. Segundo
antigos membros da Comissão de Extinção da PIDE/DGS e LP, que estudaram em
pormenor os dossiês da Operação Outono,
a carta terá sido escrita por Ernesto Maria Bisogno, um médico italiano,
neofascista e admirador da OAS, que
travara conhecimento com Humberto Delgado na capital italiana por intermédio do
informador da PIDE Mário Tavares de Carvalho. O ministro português do Interior,
que tutelava a PIDE e a respectiva rede de informadores, operacionais e agentes
provocadores, accionou os seus contactos da capital italiana - nomeadamente o
informador Mário Tavares de Carvalho, infiltrado no entourage do general - para averiguar da veracidade da denúncia e
tirar partido da relação entre Bisogno e Delgado.
S. Pais |
«Pessoa com bom nível intelectual»,
de acordo com os investigadores, o Agente
X falava com a PIDE «de igual para igual», fazia «descrições políticas de
carácter geral», enquadrando «as suas propostas de acção dentro destas». Os
seus memorandos denunciavam «uma forte convicção fascista (numa série de
pequenas expressões ou comentários)», e conhecia e privava com sectores da «realidade
política italiana». Com «possíveis ligações à CIA», a partir de Roma, e «comprovados
contactos de alto nível com a extrema-direita e os serviços secretos italianos
e espanhóis», o Agente X revelava,
nos memorandos analisados, conhecimentos e expedientes que denunciavam «longa
prática» de actividades de
espionagem e diversão e também «grande capacidade de iniciativa», «autonomia e
disponibilidade económica», «prática de análise e intervenção política». O relatório
dos investigadores encerra com uma extensa «relação das pessoas ou grupos sobre
os quais Agente X informa». E lá vêm referidas, entre muitos outras
organizações e pessoas, a «organização de Roma», «a organização de Florença»,
«a organização de Paris», «o embaixador» e «a embaixada em Roma», «o Ministério
do Interior de Itália», «o chefe do M.S.I» (Movimento Social Italiano).
Resumindo e reconstituindo a
actuação do Agente X, através da
documentação por si enviada e constante do processo da Operação Outono, os investigadores da extinta Comissão de Extinção
da PIDE/DGS e LP sublinharam:
- «O processo Outono é desencadeado por uma
carta-denúncia, em francês, de Roma, 17 Junho 1962. A carta é dirigida ao
Ministro do Interior certamente por Ernesto Maria Bisogno e indica a preparação
de uma revolução em Portugal. O Ministro do Interior dirige a carta ao Director
da PIDE e este encarrega alguém de confiança para averiguar da solidez da
informação.
-
«O Agente X é a pessoa encarregada de contactar Bisogno. Assegura-se da identidade e da confiança
que merece o autor da denúncia e em 10 de Junho de 1962 faz um relatório do que
apurou.
- «Explica que a Oposição decidiu constituir um "Conselho Técnico" para a orientação das acções futuras. Que esta organização está estabelecida em Roma e Florença, e que contacta com um grupo de Paris. Delgado está em comunicação constante com Roma. O denunciante [Bisogno] foi médico do general quando este passou por Roma, daí ganhando a sua confiança.
- «O Agente X fornece dinheiro e máquinas fotográficas [para fotografar documentos] a um seu agente (ou agentes) em Roma e está em vias de contratar outros agentes em Florença.
- «O Agente X coordena o trabalho com a DGS espanhola e realiza contactos com diversos grupos políticos italianos de extrema-direita.
- «Informa que a organização oposicionista se prepara para passar à Argélia e que Delgado foi "contratado" por Ben Bella e em breve estará em Argel. E propõe duas soluções possíveis: ou eliminar Delgado ou "confessá-lo". Alude a um telefonema feito a este respeito para Lisboa, durante a madrugada, para a residência de um dirigente da PIDE.
- «Pede para estar informado dos jornalistas portugueses que vão a Roma para os poder controlar. Nesses contactos, para melhor encobrir o seu trabalho, apresenta-se como pessoa ligada a grupos industriais. Pede mais dinheiro para subornar a imprensa italiana. Envia uma lista de despesas efectuadas que orça os 200 contos.
- «Relatório sobre a maneira de anular a oposição portuguesa: As soluções apontadas são fundamentalmente duas:
- «Explica que a Oposição decidiu constituir um "Conselho Técnico" para a orientação das acções futuras. Que esta organização está estabelecida em Roma e Florença, e que contacta com um grupo de Paris. Delgado está em comunicação constante com Roma. O denunciante [Bisogno] foi médico do general quando este passou por Roma, daí ganhando a sua confiança.
- «O Agente X fornece dinheiro e máquinas fotográficas [para fotografar documentos] a um seu agente (ou agentes) em Roma e está em vias de contratar outros agentes em Florença.
- «O Agente X coordena o trabalho com a DGS espanhola e realiza contactos com diversos grupos políticos italianos de extrema-direita.
- «Informa que a organização oposicionista se prepara para passar à Argélia e que Delgado foi "contratado" por Ben Bella e em breve estará em Argel. E propõe duas soluções possíveis: ou eliminar Delgado ou "confessá-lo". Alude a um telefonema feito a este respeito para Lisboa, durante a madrugada, para a residência de um dirigente da PIDE.
- «Pede para estar informado dos jornalistas portugueses que vão a Roma para os poder controlar. Nesses contactos, para melhor encobrir o seu trabalho, apresenta-se como pessoa ligada a grupos industriais. Pede mais dinheiro para subornar a imprensa italiana. Envia uma lista de despesas efectuadas que orça os 200 contos.
- «Relatório sobre a maneira de anular a oposição portuguesa: As soluções apontadas são fundamentalmente duas:
-
2) Dividir e opor entre si a Oposição.
Quanto a Delgado sugere:
a) Oferecer-lhe a possibilidade
de regressar a Portugal, por concessão do Governo, tudo acompanhado de uma
lista de abaixo-assinados para não ferir a susceptibilidade de Delgado ou, não
sendo possível esta solução,
b) Atraí-lo a local conveniente
e assassiná-lo, ou ainda
c) Deixar amadurecer o seu
organismo revolucionário, ou mesmo ajudar a fabricá-lo artificialmente e
liquidá-lo na altura própria. Recomenda, com carácter prioritário, iniciativas
com vista a separar o movimento da Oposição portuguesa do movimento de
libertação das colónias.
- «Em documento de 26 de
Janeiro de 1963 informa sobre negociações havidas entre o governo argelino,
Holden Roberto, Mário de Andrade e a Oposição portuguesa, com vista a um acordo
do qual resultasse a abertura de duas frentes, uma em Angola, outra no Continente.»
É perante esta emergência - a
possível aliança entre a oposição portuguesa liderada pelo general Humberto
Delgado, o governo argelino e os movimentos emancipalistas das colónias, com a
abertura de duas frente de guerra - que o Plano
b) do Agente X é accionado pela
PIDE e respectivos contactos internacionais.
Alguns dos investigadores
consideraram, anos mais tarde, que o perfil do Agente X correspondia ao dos mentores da Aginter Press e respectivos contactos internacionais, o que é
sustentado pelo único lapso que o misterioso agente cometeu quanto ao
encobrimento da sua identidade, na correspondência com Lisboa. Num dos
memorandos enviados de Roma, acrescentou à assinatura Agente X, que utilizava habitualmente, a referência «Voz do
Ocidente». Ora esta era a designação do programa de propaganda que a Aginter Press mantinha na Emissora
Nacional. [5]
Parceiros
da Aginter
Inicialmente, a PIDE e as suas
extensões em Roma - Carvalho, Bisogno e o Agente
X - planearam raptar e assassinar o general em Itália. A tarefa foi inicialmente
atribuída a operacionais da OAS das
relações de Ernesto Bisogno e eventualmente do Agente X, liderados por Jean Jacques Susini, parceiro de Yves
Guillou / Guérin Sérac na tentativa
de assassínio do general De Gaulle, em 1962, co-fundador e dirigente com Pierre
Lagaillarde e o general Raoul Salan da OAS.
A Frente Patriótica de Libertação Nacional / FPLN, estabelecida em Argel,
revelou após a morte de Delgado que Susini, ex-legionário francês, o legionário
suíço Samuel Lehmann e dois agentes da PIDE não identificados viajaram num
mesmo avião que o general, entre Roma e Paris, com o objectivo de o raptar à
chegada a França. Uma circunstância fortuita levou a que esta operação
abortasse. [6] No
processo aberto em Espanha relativo ao assassínio do general estão transcritas
declarações de Samuel Lehmann que se «refere a uma “Operação Beta”», que previa
a utilização de uma «bomba destinada a matar Humberto Delgado» e que teria «sido
preparada (sob contracto) às ordens de Susini». [7]
Ernesto Ramos |
Correspondência trocada entre
Delgado e Manuel Sertório revela que o general era frequente e regularmente
contactado, desde 1962, por Mário Tavares de Carvalho. O agente provocador e
informador da PIDE facilitava ao general a obtenção de vistos para entrada em
Itália e França, e assim controlava as idas e vindas de Humberto Delgado e dos
antifascistas que com ele privavam.
Em
Dezembro de 1962, Sertório, estabelecido em S. Paulo, Brasil, preparava uma
deslocação à Europa a fim de participar na Conferência das Forças Antifascistas
Portuguesas. Em carta de 12 de Dezembro, Delgado propunha a Sertório que, uma
vez na Europa, procurasse Mário Tavares de Carvalho. «Pode convir conhecê-lo»,
escrevia Delgado, sugerindo também um contacto com Ernesto Bisogno, um «bom
amigo». Manuel Sertório não seguiu o conselho e, assim privou o colaborador da
PIDE de informações precisas sobre a localização e datas da Conferência, na
qual participariam, entre outros, Álvaro Cunhal, Piteira Santos, Manuel Tito de
Morais, Mário Ruivo, António Lopes Cardoso e Francisco Ramos da Costa. «A falta
de cuidados conspirativos por parte da generalidade dos antifascistas, e
especialmente por parte de Delgado, facilitou a tarefa de agentes provocadores,
como o pide Mário de Carvalho»,
observou mais tarde Manuel Sertório. [9] E
deste modo, estabelecida a teia, a generosidade e o empenho revolucionário do «general
sem medo» fariam o resto.
Tienza |
Em entrevista ao Expresso, Rosa
Casaco confirmou que, ao longo da preparação da Operação Outono, se deslocou a Roma diversas vezes, uma das quais,
em Dezembro de 1964, acompanhando Barbieri Cardoso, Pereira de Carvalho e
Pascoal Pasquelini, ex-oficial das tropas de Mussolini que desempenhava funções
de tradutor e interprete na PIDE, para encontros com Ernesto Maria Bisogno e o
informador Oliveira, identificado
como Mário Alexandre Tavares de Carvalho. [11]
Em
finais de 1972, o inspector Rosa Casaco, a contas com um problema cardíaco,
confidenciou pormenores da Operação
Outono ao advogado José Manuel da Cunha. As confidências do inspector da
PIDE, através do testemunho do advogado, foram mais tarde vertidas para o
processo do assassínio de Delgado instruído logo após o 25 de Abril. Em 1974,
já refugiado em Espanha, Rosa Casaco foi ouvido em declarações, em Madrid, por
Fernando Oneto e outros investigadores da Comissão de Extinção da PIDE/DGS. Tal
como consta do processo da Operação
Outono, o inspector Rosa Casaco relatou em ambos os testemunhos que se
deslocou a Roma e Paris, em Dezembro de 1964, no âmbito da operação de cerco ao
general, acompanhado pelo subinspector Ernesto Lopes Ramos e pelo chefe de
brigada Casimiro Monteiro. Segundo Rosa Casaco, em 28 de Dezembro de 1964,
enquanto Ernesto Lopes Ramos se encontrou em Paris com Humberto Delgado,
apresentado por Mário Tavares de Carvalho como um suposto oposicionista e
atraindo o general à emboscada de Badajoz, Casimiro Monteiro «trocou impressões
com alguém exterior à PIDE» sobre aspectos da operação. Investigadores da
ex-Comissão de Extinção da PIDE/DGS admitem que o interlocutor de Monteiro em
Paris fosse um dos operacionais do comando
Susini que anteriormente tentara sem êxito raptar o general. Segundo outras
fontes, Casimiro Monteiro chegou a admitir a hipótese de aproveitar a presença
de Delgado em Paris, em Dezembro de 1964, para o «assassinar à navalhada». [12]
Delgado FPLN |
Em 10 de Fevereiro de 1965, já com a emboscada
contra Delgado em andamento, o director da PIDE, major Silva Pais, viajou de
Lisboa para Madrid, acompanhado por Rosa Casaco. Pela capital espanhola, por
esses dias, passaram também Carlos Góis Mota, o comandante dos Centuriões da Legião Portuguesa, e
Henrique Parente, altos graduados dos serviços secretos da Legião Portuguesa. [13]
Dias
antes, segundo Franco Nogueira, ministro dos Negócios estrangeiros da época, as
autoridades de Madrid, através da 2ª Repartição [informações] do Alto Estado-Maior,
tinham comunicado ao embaixador de Portugal na capital espanhola que Delgado se
encontrava naquele país, com trânsito assinalado por Madrid, Sevilha e Badajoz.
[14] Claro
que as autoridades portuguesas já sabiam da última viagem de Humberto Delgado.
Tinha sido a PIDE a atrair o general a Badajoz.
A conexão espanhola do caso Delgado
é evidente. Segundo Franco Nogueira, o ditador Franco comunicou ao ditador
Salazar, em Março de 1965, que receava que viessem a ser descobertos «dados
embaraçosos» para o regime português sobre o desaparecimento do general,
propondo-se «embrulhar as pistas, de
modo a que o caso morra».
Mas para «embrulhar as pistas», o regime contava ainda com a conexão
italiana da Operação Outono. Foi o
embaixador de Portugal em Roma quem, a 21 de Março de 1965, desmentiu qualquer
envolvimento do Estado português no desaparecimento do general. No entanto, o
regime de Lisboa estava a par do sucedido. Após o assassínio, Rosa Casaco
telefonara a Silva Pais informando-o do resultado da operação. O director da
PIDE comunicou o facto nesse mesmo dia a Salazar, numa audiência de emergência
em São Bento: «Um dos nossos matou, em Espanha, o senhor general Humberto
Delgado». [15]
E foi um correspondente de imprensa em Milão quem pôs a circular a notícia de que o general se encontrava
internado numa clínica da cidade a recuperar de uma intervenção cirúrgica a que
tinha sido submetido em Roma. A manipulação da informação era outra das
especialidades do Agente X / Voz do
Ocidente que, pelos vistos, se mantinha no activo.
Reconstituição da emboscada
Delgado MNI |
Segundo as conclusões de uma
Comissão Internacional de Inquérito da Federação Internacional dos Direitos do
Homem, o general decidira avançar «por ter recebido um telegrama de Itália, do
Sr. Mário de Carvalho, emigrado português em Roma, que lhe diz para partir no
dia seguinte para o encontro», comprometendo-se a convocar «os portugueses» que
deveriam avistar-se com Delgado. [16]
12 de Fevereiro – Delgado e a
secretária chegam a Badajoz, viajando de táxi desde Algeciras, e instalam-se no
Hotel Simancas.
No
mesmo hotel instalam-se, no mesmo dia, quatro italianos que se identificam
pelos nomes Ciro Russo, Vittorio Rossi, Giovanni Manera e Enrique Menchinnell.
A Comissão de Inquérito aberta em Espanha não conseguiu confirmar estas
passagens pelo hotel pois, segundo o director do estabelecimento, «todos os
documentos do mês de Fevereiro» de 1965 «tinham sido destruídos» após uma
visita da polícia espanhola.
De
Lisboa, partiu nesta data rumo à fronteira com Espanha uma brigada da PIDE
constituída por Rosa Casaco, Ernesto Lopes Ramos, Agostinho Tienza e Casimiro
Monteiro. Passam a noite em Reguengos de Monsaraz.
13
de Fevereiro – Os elementos da brigada da PIDE, transportando-se em dois
automóveis, um Renault Caravelle e um Opel, passam a fronteira, por São
Leonardo, com a cumplicidade do chefe do posto fronteiriço, o agente António
Gonçalves Semedo. Viajam com passaportes, matrículas e livretes falsos,
identificando-se como Roberto Vurrita Barral (Rosa Casaco), Ernesto de Castro e
Sousa (Ramos), Filipe Garcia Tavares (Tienza) e Vashdeo Kundanmal (Casimiro
Monteiro).
Humberto
Delgado e Arajarir Campos encontram-se com Ernesto
de Castro e Sousa, aliás Ernesto Lopes
Ramos, pelas 12 horas, junto à estação de correios de Badajoz. O graduado da
PIDE, que tinha sido apresentado a Delgado em Paris, em Dezembro anterior, como
um oposicionista a Salazar, prontifica-se para levar o general a um suposto
encontro com alegados militares que se opunham ao regime, perto da Quinta de
Los Almerinos, nas proximidades de Olivença. Pelas 15 horas, Ernesto Lopes
Ramos recolhe o general e Arajarir Campos junto ao Hotel Simancas,
conduzindo-os aos arredores de Olivença.
Segundo
a reconstituição do crime constante dos autos, Ernesto Lopes Ramos estacionou o
Renault Caravalle perto da Quinta de Los Almerinos, à vista de um Opel já ali estacionado.
No seu anterior encontravam-se Rosa Casaco, Agostinho Tienza e Casimiro
Monteiro. O general saiu do carro. Os três ocupantes do Opel saíram igualmente.
Casimiro Monteiro adiantou-se e disparou seis tiros sobre o general,
atingindo-o na cabeça e matando-o. Arajarir Campos sai do carro e é morta por
estrangulamento. [17]
Os
corpos de Humberto Delgado e Arajarir Campos foram arrastados para o Opel,
conduzido por Tienza, transportados pelos assassinos para os arredores de
Vilanueva del Fresno, a 40
quilómetros de distância, e sepultados numa vala no
lugar de Malos Pasos, cobertos com cal viva e regados com ácido sulfúrico que
os assassinos levavam consigo. Quando foram descobertos, cerca de dois meses
depois, os corpos estavam irreconhecíveis, apresentando sinais de mutilação.
Humberto Delgado foi reconhecido pelo anel que usava, Arajaryr Campos pela
arcada dentária.
Os
assassinos da PIDE regressam a Portugal. Na fronteira, com a cumplicidade do
agente Semedo, trocaram as chapas de matrícula dos dois automóveis. Os dois
carros e os documentos falsos dos elementos da brigada da PIDE vieram a ser
destruídos numa quinta nos arredores de Sintra, após a direcção da PIDE tomar
conhecimento do desenrolar de toda a operação e do respectivo director, major
Silva Pais, ter informado pessoalmente Salazar.
A
globalização da PIDE
«A
operação de cerco e aniquilamento do general Humberto Delgado (...) contou com
a intervenção (e/ou colaboração) de serviços estrangeiros congéneres» e não
pode ser vista separadamente da «globalização da actividade externa da PIDE
nessa época», afirmaram os investigadores Alfredo Caldeira e António Santos
Carvalho - o magistrado instrutor do processo que acusou onze funcionários da
PIDE/DGS pelo assassínio do general [18] -
num colóquio internacional sobre Humberto Delgado realizado em Lisboa, em
Fevereiro de 1995. [19] Entre
os referidos colaboradores estrangeiros, os investigadores citam «o grupo de
exilados franceses agregados ao programa
A Voz do Ocidente, que pertenceram ao grupo da Aginter Press / Lisboa, com ligações directas a Otto Skorzeny, em
Madrid, e à agência Oltremare, em
Itália, e ainda outras, todas elas estudadas hoje no âmbito do que se
convencionou chamar rede Gládio». [20]
Historiando
a evolução da PIDE na década de 60, os investigadores sublinharam, entre outros
aspectos, a «intensificação da
colaboração com serviços estrangeiros congéneres», designadamente no âmbito do Special Committee da NATO, e o
relacionamento com «elementos estrangeiros de extrema-direita», alguns dos
quais envolvidos em «atentados e tentativas de golpes de Estado em Itália, em
articulação com a designada ‘rede Gládio’
e os serviços secretos de diversos países».
Quanto ao motivo que poderia ter levado uma
rede clandestina ligada à CIA e à NATO - articulada em Portugal com a PIDE, a
Legião Portuguesa e a Aginter Press -,
a participar no cerco e aniquilamento do general – ele próprio antigo legionário
e representante de Portugal na NATO, em Washington -, a resposta pode também
encontrar-se no texto de Alfredo Caldeira e Santos Carvalho. Citando documentos
do espólio documental de Humberto Delgado, os investigadores concluíram que as
actividades do general representavam cada vez mais um «perigo» para «o flanco
Sul da Europa», fragilizado pelas ditaduras ibéricas e pelo apoio crescente da
Argélia «às acções contra os regimes peninsulares». Aliás, 1965 foi o ano da
morte de Humberto Delgado mas também o do rapto e assassínio, em Paris, do
dissidente marroquino Mehid Ben Barka, ex-dirigente do partido Istiklal, no
poder, que entrara em luta contra o regime absolutista que sucedera à
independência de Marrocos. Ben Barka foi atraído a uma cilada montada pelos
serviços secretos marroquinos e franceses, raptado à porta da Brasserie Lipp,
no boulevard St. Germain, onde uma placa mural evoca o acontecimento, e
assassinado em 29 de Outubro de 1965. Por outro lado, e como recorda Franco
Nogueira, então ministro dos Negócios Estrangeiros, em Junho de 1964 deflagrou
na Argélia uma revolta contra Ben Bella e «jornais franceses responsáveis, como
Aurore, Le Monde, Figaro» não
hesitaram em afirmar que «na origem
da revolta» estariam «serviços
especiais portugueses», como «vingança das ameaças argelinas» de «declarar
guerra a Portugal». [21]
O
general vivia habitualmente no Brasil mas encontrava-se internado numa clínica
em Praga quando golpistas brasileiros, apoiados pela CIA e coordenados pelo
coronel Vernon Walters, tomaram o poder, em Abril de 1964. Ao ter alta da
clínica de Praga, em Junho desse ano, Delgado fixou-se em Argel, onde a Junta
Revolucionária Portuguesa, da qual fora eleito presidente, tinha a sua sede no
exterior. «Vindo para a Argélia aproximei-me de Portugal», declarou o general
cinco dias depois da chegada. [22]
A
resistência portuguesa radicada em Argel vivia, por essa altura, momentos
conturbados, marcados por profundas divisões entre as principais forças que
constituíam a Frente Patriótica de Libertação Nacional. Em Outubro de 1964,
Delgado foi afastado da presidência da FPLN, fundando uma outra organização com
a mesma sigla, a Frente Portuguesa de Libertação Nacional, e prosseguindo as
suas actividades de conspiração contra o regime com base em Argel.
Os
investigadores Alfredo Caldeira e Santos Carvalho sublinham, nesse contexto, a
invocação por Lisboa - e igualmente por Madrid, Paris e Roma - da chamada «ameaça
argelina», alegada componente de uma «estratégia soviética de envolvimento e
cerco da Europa pelo Sul». Segundo documentos que circulavam entre
departamentos militares das quatro capitais latinas da Europa do Sul, a Argélia
de Ben Bella estaria disposta e pronta para apoiar incursões armadas de
oposicionistas de Portugal e Espanha como meio de fragilizar - ou eventualmente
derrubar - as ditaduras peninsulares e favorecer os movimentos de libertação
anticolonial de África. Os dois investigadores registaram, com data de
Fevereiro de 1965, uma informação do adido militar da Embaixada de Itália em
Lisboa, alertando «as autoridades portuguesas para o provável lançamento por
Humberto Delgado da guerra de guerrilhas em Portugal», em Junho desse ano. [23]
O
historiador Jiménez Redondo acrescenta, por seu lado, que o general «se
converteu numa ameaça» também para o regime espanhol ao estabelecer «contactos com a oposição ao regime
franquista» e que, a partir desse momento, passou «a ser seguido pela polícia e
pelos serviços secretos» de Madrid,
com «registos quase diários, até sobre o que Delgado pensava». [24]
Talvez
houvesse algum fogo por detrás de tanto fumo. O líder nacionalista guineense Amílcar
Cabral, falando em Dar-es-Salam, em Outubro de 1965, sugeriu um plano para que
o Governo português sentisse «a guerra no seu país», a partir de «meios
logísticos nos países africanos geograficamente mais próximos de Portugal», atingindo
«de maneira moderna as bases da guerra que Portugal trava». Em suma, concluiu Amílcar
Cabral, tratava-se de «transformar a guerra colonial em guerra, muito
simplesmente». A intervenção de Cabral, propondo o bombardeamento de Portugal a
partir do Norte de África, veio a ser retirada dos documentos oficiais da
Conferência. [25]
O general foi dado como desaparecido
a partir de 13 de Fevereiro de 1965. Em 25 de Abril desse ano, o seu corpo,
como o da sua secretária, foi descoberto, enterrado numa vala e coberto com
cal, em Malos Pasos, Vilanueva del Fresno. O «general sem medo» tinha sido
abatido por um chefe de brigada da polícia política portuguesa quando se
dirigia a um encontro montado por «um agente da CIA na PIDE», no termo de uma
operação gizada por um Agente X em
Roma e desenvolvida pela polícia política portuguesa «com a intervenção (e/ou
colaboração) de serviços estrangeiros congéneres», de «exilados franceses (...)
que pertenceram ao grupo da Aginter Press» e com ligações ao que «se convencionou chamar rede Gládio».
Pelo
meio de todo este imbróglio, e tal como ficou registado na agenda de Oliveira
Salazar, consultada e citada por Franco Nogueira, passara por Lisboa, para um
encontro discreto com o ditador, Jacques Ploncard d’Assac, um dos mentores da Voz do Ocidente / Aginter Press. [26]
«A
teia não está completa», afirmou Mário Soares, em Abril de 2002, quando do
lançamento em Lisboa do livro El Caso
Humberto Delgado: Sumario del Processo Penal Español. [27] Mário
Soares, que foi o primeiro advogado da família Delgado no caso do desaparecimento e morte do
general, acrescentou que «a teia» começava
na «polícia salazarista», passava pelos «arquivos secretos de Portugal,
Espanha, França e Argélia e terminava na CIA norte-americana». O investigador
António Santos Carvalho reforçou a opinião de Mário Soares, afirmando que «a
teia internacional que envolveu a morte de Humberto Delgado» só ficará com os
seus contornos definidos «depois de abertos os arquivos das Forças Armadas
Portuguesas». [28]
Mas essa continua a ser a Câmara dos
Segredos.
A estrutura da PIDE e respectivos contactos
internacionais, designadamente em Madrid e Roma, montada contra Humberto
Delgado, já tinha antecedentes e não foi desactivada após o assassínio do
general. Já anteriormente, em Fevereiro de 1962, Rosa
Casaco realizara uma operação idêntica. Dessa vez, o objectivo era Germano
Pedro - filho de Gabriel Pedro, velho militante do PCP e da ARA, e irmão de
Edmundo Pedro - suspeito de ter introduzido o general Humberto Delgado em
Portugal para o assalto ao quartel de Beja, no primeiro dia desse ano. Atraído
a Espanha por uma chamada de um suposto oposicionista, Germano Pedro caiu nas
mãos da PIDE. Em meados de 1964, Casaco organizou uma outra emboscada em Espanha,
esta com o objectivo de capturar Tito de Morais. Porém, viajando ao encontro do
dirigente oposicionista, Rosa Casaco sofreu um acidente de automóvel do qual
lhe resultou a fractura de uma perna. A operação contra Tito de Morais, obviamente, abortou. Rosa Casaco teve
que regressar a Lisboa, onde foi internado no Hospital do Ultramar.
Mais
tarde, utilizando os mesmos circuitos e métodos da Operação Outono, a PIDE recebera outra proposta do Agente X e tinha em preparação «um
programa» dirigido contra Mário
Soares, «o marido da Barroso», tal
como era referido por Rosa Casaco num dos
dossiês da conspiração. Soares passara a ser «o objectivo prioritário» da PIDE «a partir de 1968», de acordo
com Alfredo Caldeira e António Santos Carvalho. [29] O Agente X e o inspector Rosa Casaco
estavam novamente em campo, desta vez tendo Mário Soares como alvo, quando o
«programa» foi interrompido, em Abril de 1974, por motivos alheios à vontade
dos conspiradores. [30]
O
ex-chefe de brigada da PIDE Casimiro Monteiro foi julgado em 1981 como autor
material da morte de Humberto Delgado e da secretária do general e condenado a
19 anos e 8 meses de prisão maior. Condenado à revelia em 1981, Casimiro
Monteiro não cumpriu um único dia de prisão. E em Março de 1990, o Tribunal
Militar Territorial de Lisboa decretou a extinção do procedimento criminal
contra o assassino do general Humberto Delgado.
Outras condenações do mesmo
julgamento: Rosa Casaco (8 anos de prisão maior e 9 meses de multa), Barbieri
Cardoso (4 anos de prisão maior), Pereira de Carvalho (28 meses de prisão),
Ernesto Lopes Ramos (22 meses), Agostinho Tienza (14 meses). Pereira de
Carvalho e Tienza tinham a pena cumprida em prisão preventiva. Os restantes,
julgados à revelia, estavam refugiados na África do Sul (Casimiro Monteiro), em
França (Barbieri Cardoso), em Espanha (Rosa Casaco) e no Brasil (Ernesto Lopes
Ramos).
Em 2001, o Supremo Tribunal de Justiça decretou a extinção do
procedimento criminal contra Rosa Casaco e os mandados de captura
internacionais foram cancelados em 2002, o que permitiu ao antigo inspector da
PIDE voltar a Portugal, onde veio a falecer em Julho de 2006.
João Paulo Guerra em Diário Económico, Fevereiro de 1998,
nos 40 anos da campanha do general Humberto Delgado
nos 40 anos da campanha do general Humberto Delgado
[1]
Desenvolvimento da pesquisa jornalística do autor para as reportagens: «Gládio actuou em Portugal», O Jornal
de 16.11.1990; «Gládio em Portugal tinha punho italiano» 7.12.90; «Nuno Álvares
deu nome à Gládio», 4.01.1991; «Legião trabalhava na rede», 15.02.91; e
«Gládio: Uma lança em África», 19.04.91.
[2]
Desenvolvimento da reportagem do
autor publicada no semanário O Jornal, edição de 16.11.1990, com o título
«Gládio actuou em Portugal». No texto de entrada da reportagem assinalava-se
que a Aginter Press esteve associada
ao assassínio de Delgado.
[3]
Documento interno de análise da
Comissão de Extinção da PIDE, cópia em poder do autor.
[5]
Memorando, documentos 75 e 76,
Volume I Outono I, do processo do assassínio de Humberto Delgado, citado pelos
investigadores da Comissão de Extinção da PIDE/DGS.
[6]
Comunicado da Frente Patriótica
de Libertação Nacional, Argel, 4 de Março de 1966, citado por Mariano Robles e
José António Novais, in Humberto Delgado – Assassinato de um Herói, Liber,
Lisboa, sem data.
[7]
Intervenção de Alfredo Caldeira
no Colóquio Internacional «Humberto Delgado – 30 anos da sua morte», Lisboa 10
e 11 de Fevereiro de 1995, transcrita por Iva Delgado e Carlos Pacheco in A
Tirania Portuguesa, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1995.
[8]
Ernesto Lopes Ramos foi um dos
graduados da PIDE que frequentou um curso da CIA nos EUA, em 1957, sendo na
altura recrutado para trabalhar para os americanos.
[9]
Manuel Sertório, in Humberto Delgado Cartas Inéditas, Praça
do Livro, Lisboa, 1978. A mesma «falta de cuidados conspirativos» permitiu que
Delgado mantivesse entre os seus apoiantes mais activos no Brasil um indivíduo
que informava as autoridades portuguesas de todas as suas actividades,
relações, encontros, viagens e planos. O informador em causa correspondia-se
com Delgado quando o general estava ausente do Brasil. Parte da avença que
recebia como informador era mesmo entregue ao general para pagar o arrendamento
do apartamento que Delgado ocupava no Rio de Janeiro. Cópias dos relatórios do
informador, não assinados, constam do livro A
Tirania Portuguesa, de Iva Delgado e Carlos Pacheco, já citado.
[10]
José Freire Antunes, Os
Americanos e Portugal Volume I, Difusão Cultural, Lisboa 1991.
[11]
Rosa Casaco, «Como matámos
Humberto Delgado», entrevista a José Pedro Castanheira, Expresso, 21 de
Fevereiro de 1998.
[12]
Rogério Rodrigues, A verdadeira história do assassino de
Humberto Delgado, O Jornal, 25 de Setembro de 1992.
[13]
Parente, legionário e chefe da
Brigada de Costumes da Polícia Judiciária, veio a justificar a sua presença em
Madrid com diligências no âmbito de uma investigação da PJ.
[14]
Franco Nogueira, Salazar, Volume
V, A Resistência (1958 – 1964), Livraria Civilização Editora, Porto, 1984.
[15]
«Delgado foi morto por um dos nossos», José Pedro Castanheira,
Expresso, 12 de Fevereiro de 2005.
[16]
Relatório transcrito por Iva
Delgado e Carlos Pacheco in A Tirania Portuguesa, obra já citada.
[17]
O assassínio de Arajaryr Campos
não foi alvo de qualquer investigação ou processo judicial próprio mas os
assassinos do general foram sentenciados por um duplo homicídio, cometido a
tiro por Casimiro Monteiro. A autópsia do corpo da secretária do general,
realizada após a descoberta dos cadáveres por médicos legistas espanhóis,
atribuiu o «mecanismo da morte» a «graves lesões no pescoço» que indiciavam que
a vítima teria sido estrangulada. In Arajaryr Campos, Uma brasileira contra
Salazar, Livros Horizonte, Lisboa, 2006.
[18]
Para além dos condenados, atrás
referidos, foram inicialmente acusados também o director-geral, Silva Pais, e
ainda Eduardo de Sousa Miguel da Silva, Carlos Lopes Veloso, médico dos quadros
da PIDE, e António Gonçalves Semedo, chefe do posto fronteiriço da PIDE de S.
Leonardo. Nota da Polícia Judiciária, Diário de Notícias de 31 Julho de
1974.
[18] A síntese das
comunicações dos dois investigadores, sem dúvida os maiores conhecedores do
processo do assassínio do general, está publicada in A Tirania Portuguesa,
Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1995.
[19]
Idem
[20]
A comunicação de Alfredo
Caldeira e Santos Carvalho foi apresentada cinco anos após a publicação das
reportagens do autor sobre a rede Gládio em Portugal, no semanário O Jornal. O
texto dos dois investigadores, com a autoridade que se lhes reconhece, veio corroborar
a tese do envolvimento da Aginter Press, ramo
da rede Gládio em Portugal, na conspiração contra o general
Humberto Delgado.
[21]
Franco Nogueira in Salazar,
Volume V, já citado.
[22]
Conferência de imprensa em
Argel, 2 de Julho de 1964,
in A Tirania Portuguesa, já citado.
[23]
Intervenção de Alfredo Caldeira
e Santos Carvalho no Colóquio de 1995, em Lisboa, já citada.
[24]
Juan Carlos Jiménez Redondo, in
El Outro Caso Humberto Delgado – Arquivos Policiales e de Información, Junta de
Extremadura, colecção Estúdios Portugueses, 2004, segunda obra do autor sobre o
envolvimento espanhol no assassínio de Humberto Delgado.
[25]
Amílcar Cabral na 2ª Conferência
das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas / CONCP, Dar-es-Salam, 3 a 8 de Outubro de 1965. In João Paulo
Guerra, Memória das Guerras Coloniais, Edições Afrontamento, Porto, 1994.
[26]
Franco Nogueira, Salazar Volume
VI, já citado.
[27]
O livro, da autoria de Juan
Carlos Jimenez Redondo, editado pela Junta de Extremadura, apresenta 160
documentos do processo sobre o assassínio de Delgado, dirigido em Espanha pelo
juiz Crespo Marquez, a partir do final de Abril de 1965 e determina sem equívocos
a ligação da PIDE à morte do general.
[28]
Diário de Notícias 3 de Abril de
2002.
[29]
Público, 13 de Fevereiro de
1995.
[30]
«Mário Soares era a próxima
vítima», notícia assinada pelo autor, no Diário Económico, 20 de Fevereiro de
1998, citando documentos da Operação
Outono.
1 comentário:
Bem lembrado!
Exemplo de dignidade e coragem
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