Telefonia de Lisboa |
Reconstituição para O Jornal do assalto ao avião da TAP em 1961: o panfleto lançado sobre Lisboa, autografado por tripulantes e assaltantes do avião. |
Na TSF entrei para editor e repórter na equipa que estava a fazer as edições do fim-de-semana: folgávamos segunda e terça, estudávamos a agenda na quarta – durante um almoço numa tasca nas imediações das Amoreiras, uma tasca chamada Regresso, o que me parecia um bom presságio para o meu regresso à rádio –, metíamos mãos à obra e pés ao caminho na quinta e sexta, sábados e domingos editávamos os noticiários e respectivas reportagens, mais um magazine de actualidades, Os Dias Andados. O editor da equipa era o Fernando Alves.
Trabalhámos no duro, com largas à imaginação e também nos divertimos alguma coisa. E passados seis meses houve rotação das equipas, fui para as manhãs, isto é, alvorada às 4 da madrugada, editar notícias com uma equipa fantástica: João Paulo Baltazar, Margarida Serra, Paula Mesquita Lopes, José Manuel Mestre, Luís Lourenço, José Milheiro, Ana Cristina Gaspar, (avisem-me, e perdoem-me, se estou a esquecer-me de alguém). Mais umas rotações, passei pelos turnos das tardes e noites, e eis-me a trabalhar em grandes projectos de reportagens. O primeiro foi O Regresso das Caravelas, depois Viagens com Livros, pelo meio planifiquei o 20º aniversário da democracia com as 25 Horas do 25 de Abril.
O Regresso das Caravelas, 1993 – A proposta partiu
do David Borges, director da TSF que
sucedeu ao Emídio Rangel; eu dei-lhe o título e o conteúdo: consistia em recontar
o processo da chamada descolonização, aproveitando algum distanciamento
histórico dos seus protagonistas. Entre Fevereiro e Abril de 1993 estudei, documentei-me e entrevistei: Adriano Moreira, Alfredo Margarido, Almeida Santos, António de
Spínola, António Ramalho Eanes, António Ramos, António Rosa Coutinho, Cardoso e
Cunha, Carlos Fabião, Carlos Galvão de Melo, Costa Borges, Ernesto Melo Antunes,
Francisco Costa Gomes, Jorge Santos, José Veiga Simão, Kaulza de
Arriaga, Lemos Pires, Luís Cabral, Manuel Monge, Manuel José Homem
de Mello, Manuel dos Santos, Mário Soares, Paulo Pires, Pedro Pezarat Correia, Vasco Gonçalves, Vítor
Ramalho; o Manuel Vilas Boas recolheu o depoimento de D. Manuel Vieira Pinto e do padre Domingos Ferrão, Ana Margarida Póvoa entrevistou Jonas Savimbi, Marcelino dos Santos e Lúcio Lara, recuperei parte da entrevista que fizera a Salgueiro Maia, em 20 de
Janeiro de 1992, publicada no mesmo dia pela TSF e o Público. Os cinco
episódios foram sonorizados e montados com o Paulo Canto e Castro nos estúdios
de João Canedo na Avenida de Ceuta.
Primeira edição em livro de O Regresso das Caravelas, Dom Quixote. A foto de Alfredo Cunha foi oferecida pelo autor para a capa: O padrão dos descobrimentos e os contentores do regresso das caravelas |
E em 1994 pelo meio da sucessão de
atribuições de prémios caiu um processo para despedimentos na TSF. Era o início
da criação do Jornalismo Low Cost,
como lhe chamou o José Manuel Mestre no 4º Congresso dos Jornalistas. Em 1994, o
Mestre estava na lista para despedimentos da TSF. Quando fui ao gabinete do
director manifestar a minha total discordância pela existência de uma tal
lista, tanto mais que continha alguns dos melhores jornalistas de uma equipa vencedora,
fiquei a saber que eu próprio também estava na lista para despedimentos. E foi durante
reuniões no gabinete do director, para negociar a rescisão do meu contrato, que
caíram sucessivas chamadas telefónicas a anunciar a atribuição de consecutivos prémios
para O Regresso das Caravelas.
Entretanto, fui convocado para uma reunião com dois administradores – a TSF mudara a composição accionista – que me comunicaram que a proposta para o meu despedimento era um lamentável equívoco, um erro com o qual não podiam estar de acordo, pelo que o processo com vista à cessação do meu contrato ficava naquele mesmo momento sem efeito. Mas as coisas nunca mais foram como tinham sido até então na TSF. Há feridas que não deixam de doer mesmo que cicatrizem.
Adiante! Para 1994, propus uma emissão especial, para consagrar os 20 anos do 25 de Abril, reconstituindo o Dia das Surpresas hora a hora, com os respectivos protagonistas. O desenvolvimento da proposta e o trabalho de pesquisa, identificação e localização de protagonistas deu origem à emissão As 25 Horas do 25 de Abril: das 00h e 20m do dia 25, com a passagem da Grândola Viola Morena na RR, até à 01h 20m de dia 26, com a proclamação da Junta de Salvação Nacional na RTP.
Entretanto, fui convocado para uma reunião com dois administradores – a TSF mudara a composição accionista – que me comunicaram que a proposta para o meu despedimento era um lamentável equívoco, um erro com o qual não podiam estar de acordo, pelo que o processo com vista à cessação do meu contrato ficava naquele mesmo momento sem efeito. Mas as coisas nunca mais foram como tinham sido até então na TSF. Há feridas que não deixam de doer mesmo que cicatrizem.
Adiante! Para 1994, propus uma emissão especial, para consagrar os 20 anos do 25 de Abril, reconstituindo o Dia das Surpresas hora a hora, com os respectivos protagonistas. O desenvolvimento da proposta e o trabalho de pesquisa, identificação e localização de protagonistas deu origem à emissão As 25 Horas do 25 de Abril: das 00h e 20m do dia 25, com a passagem da Grândola Viola Morena na RR, até à 01h 20m de dia 26, com a proclamação da Junta de Salvação Nacional na RTP.
Em
1995 apresentei novo projecto de grande reportagem, recuperando
um velha ideia que ficara sem resposta das rádios dos anos 80. Tratava-se de procurar
pelo País sinais da realidade correspondente à ficção de grandes obras da
literatura portuguesa. Eu sabia exactamente o
que me propunha fazer, mas reconheço que a proposta era de algum risco. Veio a
ser aceite pela direcção da TSF - David Borges, Carlos Andrade e Fernando Alves - e no primeiro semestre de 1995 andei em viagem,
com uma dúzia de clássicos da literatura portuguesa.
Chamei à série de Viagens com Livros.
Visitando os locais da acção, os cenários, os ambientes e as situações de doze
romances do último século e meio da literatura portuguesa, encontrei-me, nas encruzilhadas entre a ficção dos livros e a realidade das vidas
dos autores. Também com frequência, e apesar de todo o tempo passado desde a
data da publicação de cada um dos livros, encontrei sinais muito reais dos
sítios, das casas, das ruas e largos, das vilas, cidades e campos que haviam sido cenários de cada romance,
como também dos temas e das próprias personagens.
Vagando pelo quadro imenso do vale do Tejo, em Santarém, a viagem dos olhos de Almeida Garrett... |
S. Leonardo da Galafura, cenário de Torga |
A Gândara, paisagem tatuada na obra de Carlos de Oliveira |
Em Lisboa, o percurso era o da Avenida Almirante Reis, cenário de Léah e Outras Histórias, de José Rodrigues Miguéis, e em particular das Saudades para Dona Genciana. De Lisboa partiu o repórter, como partira século e meio antes Almeida Garrett, pelo Vale do Tejo nas Viagens na Minha Terra para ler «o livro de pedra que há em Santarém». No Alentejo, a reportagem procurou a rua, o largo, todas as ruas, largos e conversas dos contos de O Fogo e as Cinzas, de Manuel de Fonseca. E nos Açores, entre a eterna busca da ilha perdida, a gesta dos baleeiros e o presságio de uma serpente cega, a reportagem navegou com Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio.
A Fonte da Joaninha das Viagens de Garrett |
Vigia para a caça à baleia, na ilha do Pico |
Ainda cheguei a avançar
para a segunda série das Viagens:
tinha as obras e os autores identificados, os livros, a história, a literatura e
a geografia estudados, algum trabalho de campo realizado para a reportagem em
redor da Ode Marítima, de Álvaro de
Campos. E, de repente, recebi ordem para deixar tudo e regressar à edição de notícias.
Já não estava na TSF quando foram atribuídos à série Viagens com Livros dois prémios de reportagem: Prémio de Reportagem de Rádio, do Clube Português de Imprensa, e Prémio Procópio de Jornalismo, 1996.
Já não estava na TSF quando foram atribuídos à série Viagens com Livros dois prémios de reportagem: Prémio de Reportagem de Rádio, do Clube Português de Imprensa, e Prémio Procópio de Jornalismo, 1996.
Caldas de Aregos / Tormes: adeus cidade, «adeuzinho, até nunca mais» |
Uma das minhas Viagens com Livros, a viagem pela Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz, foi
objecto da dissertação de mestrado em Jornalismo de Filomena Sousa Borges, na
Escola Superior de Comunicação Social, Lisboa, em Novembro de 2013. Apresentados pelo
orientador da dissertação e meu antigo director na TSF, Carlos Andrade,
conversámos longamente e da conversa mas, acima de tudo, da minuciosa, especializada e atenta audição da reportagem
saiu a belíssima e profunda dissertação “Som,
sentido e paisagem sonora n’ A Cidade e as Serras, análise de uma reportagem
radiofónica”.
Em Setembro
de 1997, depois de uma passagem de seis meses pela delegação de
Lisboa do jornal desportivo O Jogo, aceitei
o convite do Sérgio Figueiredo para fazer parte da equipa do Diário Económico. Confesso que não
gostei da experiência do trabalho em O
Jogo, mas agradeço reconhecidamente ao então director, Manuel Tavares, meu
camarada dos tempos de O Diário, e ao
Joaquim Oliveira. Ceámos os três à beira do Tejo, de 3 para 4 de Setembro de
1997 – e brindámos ao meu filho mais novo, o Francisco, que tinha nascido nesse
dia –, mas eu tinha decidido sair e saí.
Uma campanha eleitoral para o DE |
E a 6 de Outubro de 1997 comecei a trabalhar no Diário Económico.
Então e a rádio? De facto, a rádio…
(continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário