João Salgueiro, presidente da Associação de Bancos Portugueses, ex-ministro das Finanças e do Plano, economista, 70 anos, com uma longa carreira de serviço público e também no sector privado, compara a civilização europeia actual com o final do Império Romano. «Um mundo muito individualista, muito consumista, com poucas causas que transcendam as pessoas e que deem sentido à vida». Como cidadão e como cristão, pensa que faltam à sociedade «desafios de padrões morais mais exigentes, de valores e de causas mais avançadas». E diz que «o consumismo, em parte, é uma filosofia que é anticristã».
Em entrevista ao Diário Económico, João
Salgueiro fala da falta de estratégia e de ambição e dos «complexos» do país,
do eleitoralismo e da corrupção, de Portugal e da Europa. E alerta para que o Pais
não pode, «sem grandes desastres», perder anos e anos atrás da consolidação
orçamental. Uma longa conversa com um tema central: estratégia e falta dela.
-
Há uma palavra constante no seu discurso: estratégia. É isso que tem faltado ao
país?
- É uma das coisas que tem faltado aos
portugueses e, consequentemente, ao país. Tem faltado aos portugueses, até na
sua vida pessoal, às empresas, aos governos e portanto, no conjunto, falta-nos
um pensamento estratégico. Mas há outra coisa que nos falta e que está ligada a
essa: temos falta de ambição. A única ambição que os portugueses têm é ter uma
vida fácil, independentemente de criar as condições para isso. E a razão porque
eu falo de estratégia é porque acho legítimo que os portugueses queiram
melhorar de vida, porque estamos na Europa e somos o mais atrasado dos membros
da União Europeia a 15. Mas não é possível corrigir esse atraso se não criamos
as condições para produzir mais e melhor, termos mais valor acrescentado. Isso
não se consegue sem ambição e sem estratégia.
-
Mas faz essa crítica em geral ou está a pensar numa determinada estratégia?
- Estou a pensar, em primeiro lugar, que é
difícil conceber que se possa ter tanta tolerância para a ineficácia e para a
decadência relativa em que Portugal tem vindo a cair. Essa tolerância para a
decadência e a ineficácia só é possível porque as pessoas não têm uma
perspectiva, não têm a noção que estão a retroceder, a perder oportunidades.
- E
para além da estratégia, que mais falta ao País?
- Falta a ambição dos portugueses de mudar
de vida e perceberem que para mudar de vida têm que se organizar para a vida
mudar. Nós tivemos casos de países que eram considerados desastres, como era a
Irlanda, que estava na estagnação desde os anos 60, e de repente deu uma volta,
porque as forças sociais e políticas entenderam que estava a atingir proporções
de desastre. Perceberam que tinham de mudar e mudaram. Portanto o que eu acho
que tem sido mau é, perante situações de dificuldade os governos têm dito que é
uma crise…
-
Quando diz os governos fala de todos os governos?
- Praticamente todos os governos falam de
uma crise, que é preciso tapar os buracos que a crise provocou. No fundo será
uma coisa passageira que, se tivermos juízo, saímos dela. Quando o problema não
é esse. Nós temos que mudar mesmo de estruturas de produção e de formas de
vida. E isso não tem sido posto com clareza aos portugueses.
Complexos de um país pequeno
-
No seu entender, de que resulta tudo isso?
- Resulta de várias coisas. Posso enumerar
uma série de complexos que nós temos. O primeiro é o complexo de medo de
acharmos que um país pequeno terá menos possibilidades que um país maior. Isto
afecta-nos fortemente. Nós estamos dispostos a aceitar que temos que nos
resignar a uma mediocridade porque somos um país pequeno. Ora se formos a ver o
que acontece em todo o mundo, alguns dos países de maior sucesso são países
pequenos. Nós devíamos ser uma ameaça de concorrência para a Espanha. E é ao
contrário. Há ainda um outro complexo que é o da dependência. O povo português,
por razões históricas, esteve sempre muito dependente do poder. Isso fez
sentido quando havia riquezas a distribuir, que vinham da Índia, do Brasil…
-
Agora vêm de Bruxelas…
- Com a entrada na União Europeia criou-se o
mito de que estávamos outra vez a ter alguma coisa para distribuir. Mas isto
tem um horizonte limitado. Portanto, reforçou-se essa dependência, financeira e
de autonomia. Uma das razões porque os nossos governos negociaram mal em várias
fases da nossa coexistência com a Europa, abdicando que coisas que eram
importantes para nós, foi porque tínhamos essa dependência financeira. Isso
traduziu-se numa menoridade negocial. Continuamos, em muitas medidas, como se
não fossemos um membro de pleno direito da União Europeia e a ter que respeitar
a opinião dos mais poderosos. Isso não se vê nos países nórdicos. Votam
conforme entendem, não estão a perguntar a opinião dos outros.
-
Na integração europeia também houve falta de estratégia?
- O projecto que foi apresentado aos
portugueses foi o de convergir para a média europeia em 30 anos. Convergir para
a média nunca é um projecto motivador. Não há nenhuma empresa que possa ter
como projecto convergir para uma média em 30 anos. O único projecto, que se
designa por ‘bench marketing’, é adoptar imediatamente as melhores práticas dos
melhores concorrentes. Porque é que nós não podemos ter um sistema de justiça
ou um sistema de ensino que sejam aferidos pelos melhores? Mas isso implica uma
determinação, uma ambição, uma estratégia.
-
Temos então falta de estratégia e complexos…
- Um outro complexo que nós temos é o de
falar mais do que actuar. Nós somos capazes de coexistir com um problema
durante anos e anos. Nos outros países, um problema que é detectado tem que
encontrar uma solução. Não ganhamos nada em lamentarmo-nos e deixar correr o
tempo. Porque para uma decadência do país não é necessário que ele funcione
pior do que funcionava há 10 anos. Basta que não acompanhe o progresso dos
outros. Quando não acompanhamos o progresso dos outros estamos em decadência.
Mas em Portugal pode falar-se na necessidade de reformas durante anos.
-
Falou-se, durante anos, que vinham aí os têxteis chineses…
- Nós sabemos que não temos um grande
mercado interno, não temos grandes recursos naturais. Portanto, o que temos é
que ter um método próprio de criar valor. E onde nós podemos criar valor é pela
qualidade e pela rapidez. Se não tivermos mais qualidade que os outros não vai
ser por uma questão de preço. Isso seria regredir, reduzir salários
constantemente para termos custos mais competitivos que os países da Ásia.
Portugal até está bem situado em relação ao mercado europeu e até mesmo à
América do Norte. Da mesma forma, no turismo nós não podemos concorrer com o
Brasil para férias longas. Mas para fins-de-semana estamos a três horas de voo
das principais capitais europeias. Mas tem que haver uma estratégia. Ora o tipo
de urbanização que se está a fazer no Algarve, e dizem que querem fazer no
Alentejo, é um desastre. Para algumas pessoas ganharem umas dezenas de milhares
de contos, liquidam-se as oportunidades do futuro do país.
-
Um dos problemas de que se fala é o da consolidação orçamental. O país pode
perder anos e mais anos atrás da consolidação orçamental?
- Não pode sem grandes desastres. Os nossos
governos têm sido muito eleitoralistas. Ou então muito fracos, sem capacidade
para encarar os problemas de frente. O teste deste governo vai ser ainda mais
decisivo do que foi o do anterior. Cada vez que se repete a história o preço é
maior. O défice é maior, as pessoas já estão cansadas de ouvir o mesmo discurso
de sempre. E portanto agora é mais importante que não se falhe.
Um novo-riquismo provinciano
-
Quem define e executa a estratégia no quadro do nosso sistema de poderes?
- Eu não falo de uma estratégia centralizada
para o país. O Estado claro que tem que ter uma estratégia centralizada, para
ter contas equilibradas, com um défice aceitável, ter uma administração eficaz.
O que está em causa é a organização do sistema. E para isso o Estado tem que
ter uma estratégia. Para que possa oferecer ao país, às empresas e às pessoas
melhores oportunidades. De resto, nós precisamos de uma lógica estratégica.
Desde o Estado, que tem que ter uma estratégia. Vamos agora enveredar por
grande projectos de obras públicas. De vez em quando fala-se de uma terceira
travessia sobre o Tejo. Qual é a utilidade? É um desperdício, vai aumentar a
circulação automóvel em Lisboa, é tudo quanto não devemos fazer. Eu tenho
dúvidas se o que vai custar uma ligação de alta velocidade Lisboa – Porto se
justifica. Acho que devíamos fazer muito bem as contas e explicar tudo ao país.
Felizmente o primeiro-ministro anunciou que vão ser divulgados todos os
elementos que fundamentam os custos das decisões a tomar. O preço é
enormíssimo, face à economia de percurso que seria conseguida, vai rasgar-se
uma grande parte de território. É indispensável que o envolvimento dos privados
não implique subsidiação da operação, dificilmente suportável face à situação
do nosso Orçamento.
-
Falou das grandes obras públicas a propósito de eleitoralismo. Acha que isso é
uma perversão da democracia?
- Acho que é um novo-riquismo. Tornou-se uma
moda, um bocado provinciana, orientar o imaginário dos portugueses para grandes
obras. A Irlanda só há poucos anos é que começou a fazer auto-estradas.
Primeiro melhoraram o ensino. Eu acho que neste momento era preferível melhorar
os transportes colectivos do que aumentar a circulação automóvel. São soluções
de vista curta que contribuem para aumentar os males, em vez de resolverem os
problemas.
-
A classe política promete facilmente ou cede a pressões de corporações?
- Os cidadãos deviam ter mais influência do
que têm. Os sistemas modernos funcionam com base no mercado económico e no
mercado político. No mercado económico as pessoas votam todos os dias quando
fazem compras. Na vida política as pessoas limitam-se, em Portugal, a votar de
quatro em quatro anos. Às vezes de dois em dois, como agora é moda. O
funcionamento do mercado político implicava que as pessoas estivessem mais
atentas ao que se está a passar.
-
Essa fraca intervenção deriva do fraco esclarecimento, que advém do mau sistema
do ensino. Não saímos daqui?
- Fraco esclarecimento, é isso. Se metade do
tempo que as pessoas dedicam a informar-se sobre o futebol fosse dedicado à
informação sobre questões que afectam o seu futuro, que qualificações
profissionais precisavam de ter, o país era outro. Mas as pessoas são
encorajadas a ocupar demasiado tempo com questões não essenciais.
- … Que eu acho que é muito alimentada…
-
A par disso há grupos de pressão que condicionam as opções políticas…
- Há grupos de pressão. Mas aí eu não
desculpo os governos. O garante do bem comum são os governos. É para isso que
há um sistema político. As corporações defendem os seus interesses. Os
sindicatos, as associações patronais formam-se numa lógica de defender as
pessoas agremiadas nessas associações. Mas o garante do bem comum é o Estado.
Manter as corporações no campo da legitimidade é termos um Estado de facto.
-
Há 5 anos disse que se vivia uma situação de pré-corrupção no sistema político.
Como é que evoluiu a pré-corrupção? Já é mesmo corrupção?
- Eu acho que já era corrupção na altura. Na
altura quis-me limitar ao que era evidente. Quando se criam condições para que
alguns actos da Administração tenham valor está a criar-se um preço. Quando as
coisas demoram muito a ser decididas, ou são decididas sem regras de aplicação
automática, obviamente que se dá um poder enorme de decidir a favor ou contra
os interesses das pessoas. As pessoas sabem isso e uma parte delas está
disposta a pagar um preço. Foi a isso que eu chamei pré-corrupção. A essa
possibilidade de fazer favores, que uns aproveitarão e outros não.
- Não só dos partidos. Mas em relação aos
partidos há uma questão muito perversa. É que a maior parte dos financiamentos
é um favor que se faz aos partidos. E os favores requerem outros favores em
troca. Criou-se aí um caldo de cultura que não é o melhor. O pouco tempo que
estive na vida partidária o que mais me chocou foi isso. As pessoas não lutarem
por um sistema que fosse mais exigente ao nível da transparência.
A Europa não precisa de uma
Constituição
-
A sua vida partidária terminou na Figueira da Foz?
- Eu nunca tive intenção de ter uma carreira
política. Nas duas vezes que passei pela vida política foram duas mobilizações.
Primeiro, senti-me na obrigação de participar numa tentativa de liberalização
do antigo regime. Mas quando percebi que não ia haver liberalização pedi para
sair do governo. Depois, foi num período de crise para o país, a seguir ao
desastre de Camarate e à morte do Dr. Sá Carneiro, a situação de crise
económica era grave e aceitei fazer parte do governo por uma dezena de meses.
-
Mas depois candidatou-se à liderança do PSD…
- Candidatei-me por abandono de outros, de
todas as pessoas que tinham possibilidades de serem líderes. Na véspera ainda
não se tinha candidatado. E o vazio não parecia correcto. Aceitei que
propusessem o meu nome com a condição de não angariarem votos a meu favor. O
que acabou por ser ultrapassado pelo aparecimento da candidatura do Dr. Cavaco
Silva, que era uma boa solução.
-
E depois, considera que foram boas, designadamente na política económica, as
soluções de Cavaco Silva?
- Teve muitas coisas positivas, outras menos
positivas. Imprimiu alguma expectativa positiva aos portugueses. Mas acho que
ele confundiu, ou pelo menos o país entendeu assim, que os bons anos que
tivemos eram consequência só da política que estava a ser seguida. Aqueles anos
a seguir a 1985 eram excepcionais. Foi a queda do preço do petróleo, a queda do
valor do dólar, a queda das taxas de juro, a entrada na União Europeia, foram
muitos factores positivos juntos. E o país devia ter sido alertado que nós não
tínhamos entrado no paraíso quando entrámos na União Europeia. E os portugueses
convenceram-se disso.
- Nós justificamos o projecto europeu pelo
sucesso do passado, não pelo sucesso para o futuro. Dizemos, a Europa foi boa
para Portugal, porque tivemos acesso a um mercado em expansão, onde os nossos
têxteis entravam livremente e não entravam os têxteis dos concorrentes, tivemos
fundos estruturais a crescer durante 15 anos e a Europa era muito dinâmica. Ora
nada disto se está a verificar agora nem se vai verificar no futuro próximo. É
um continente envelhecido, a economia está com problemas, o modelo social está
posto em causa, os fundos vão reduzir-se e o espaço europeu, para nós,
desapareceu e é agora o espaço mundial do comércio liberalizado. A experiência
positiva dos últimos 15 anos não pode ser extrapolada para o futuro. Os
desafios agora são outros e nós não temos uma estratégia de resposta.
-
Disse que os portugueses se convenceram que tinham entrado no paraíso. Mas
agora parece que já não estão tão convencidos. Havia uma sondagem que dava um
empate entre o Sim e o Não à Constituição europeia…
- Eu acho que os portugueses, neste momento,
ainda votariam favoravelmente ao Tratado. Mas é porque não pensaram no assunto.
Porque este Tratado é, como alguém dizia, uma má solução para um problema que
não existia. A Europa não precisa de uma Constituição, nesta fase histórica.
Devia haver uma reflexão profunda sobre a Europa, quais eram as alternativas
futuras quanto à organização do espaço europeu. Não foi nada disto que se fez.
Já que falamos tanto em contrapeso ao peso dos Estados Unidos, devíamos
comparar este processo constitucional com o dos Estados Unidos, onde há um
conjunto de regras, muito poucas, sobre o poder legislativo, executivo e
judicial e depois há umas vinte e tal emendas. Mas a Constituição são regras de
jogo indiscutíveis. E eu acho que sobre a Europa não se viram quais seriam as
regras de jogo indiscutíveis.
-
E onde deveriam existir essas regras indiscutíveis?
- Não há memória de haver um espaço comum
sem um orçamento comum. Este problema nem sequer foi discutido. Mais, foi
proibido que se discutisse. Quais são as regras financeiras? Portugal não tem
direito a nenhuma verba do orçamento comunitário, a não ser aquelas que são
negociadas de seis em seis anos. Depois, há pouco dinheiro. Mas a Política
Agrícola consome mais de 40 por cento a favor dos países já mais desenvolvidos.
Isto não faz sentido nenhum. Como é que se traduz a igualdade dos estados? Nos
Estados Unidos está muito claro, há uma segunda câmara, o Senado, e cada estado
tem dois senadores. Na Europa não há igualdade entre os estados. E não há uma
verdadeira legitimidade europeia. O Conselho é o órgão mais poderoso mas não
tem uma legitimidade europeia, mas apenas legitimidades nacionais. Nada disto
foi pensado. E eu acho que o que devia pensar-se era isto: nesta fase
histórica, o que é que os europeus querem em relação a avanços supranacionais?
O que é querem pôr em comum? E isso é que deve ser traduzido num Tratado
constitucional.
O consumismo é uma filosofia
anticristã
-
A sua vida pública começou associada à Acção Católica e ao pensamento social
cristão. Ainda há lugar para esses valores?
- Num país como o nosso esses valores confundem-se
com a escala de valores que nós temos. Temos um princípio de solidariedade para
com o próximo, que nem todas as culturas têm, temos uma ideia de que a
generosidade em relação aos mais necessitados se justifica.
-
Mas não é essa realidade que estamos a viver…
- Uma filosofia de consumismo, que é aquela
em que estamos a viver, é responsável por alguns dos desequilíbrios que nós
temos. Porque quando se encoraja as pessoas a consumir, independentemente do
que produzem, estamos a enganá-las. A elas individualmente, porque elas só
podem consumir aquilo que tiverem condições para pagar, a menos que vendam
alguma coisa que já têm…
-
Ou que recorram ao crédito…
- Mas o crédito também tem que se pagar. Mas
há outra questão. Quando promovemos o consumismo estamos a apontar as
prioridades do país para o consumo e não para o progresso que deu origem à
revolução industrial. O que permitiu que se consumisse mais, e que permitiu o
modelo social europeu, foi o ser capaz de ser mais inovador. O consumismo, em
parte, é uma filosofia que é anticristã. Na filosofia cristã o sentido é o de
que a felicidade das pessoas não vem principalmente dos bens materiais, mas da
maneira como se relacionam com o mundo, com os outros e com a natureza. E isso,
na sociedade moderna, perdeu-se muito. Uma parte dos problemas que estamos a
defrontar vem daí. Vem de um mundo muito individualista, muito consumista, com
poucas causas que transcendam as pessoas e que dêem sentido à vida.
-
E o mercado pode viver sem esse consumismo? Não é o mercado que o impõe?
- Este mercado é, porque é feito para isso.
Quando as empresas gastam tanto em publicidade é para levar as pessoas a
consumir mais do que o que precisam. Um blusão ou uns ténis de marca custam
várias vezes o seu custo real. O que se gasta em publicidade depois é
compensado porque as pessoas pagam mais pela marca. E isto é um ciclo fechado.
Mas os valores do consumismo têm uma duração útil escassa. Todos os movimentos
ambientalistas, os movimentos de espiritualidade, alguma renovação cristã, tudo
isso tem que ver com as pessoas sentirem que falta muito para darem um sentido
às suas vidas. Desafios de padrões morais mais exigentes, de valores e de
causas mais avançadas continuam a fazer todo o sentido. O florescimento do
cristianismo no mundo romano foi uma reacção à decadência. A civilização
europeia actual tem muito que ver com o final do Império Romano. Não direi com
o último mas com o penúltimo século. A taxa de natalidade a baixar, o consumo é
ser arvorado como um valor de referência.
-
E que causa pode emergir desta decadência?
- A sociedade hoje tem mais perspectiva
histórica. Há uma esperança e uma referência. A decadência do Império Romano
não tinha um termo de comparação. Quando falamos da crise do Império Romano
estamos a falar de alguma coisa que conhecemos e cujos sinais começamos a
detectar na Europa. Por exemplo, a imigração descontrolada, porque já não havia
demografia suficiente dentro do império. Tudo isto tem muito que ver com o que
se está a passar na Europa. Era bom que houvesse uma grande reflexão sobre a
Europa, em vez de um Tratado ao nível da superstrutura, e que se encontrassem
respostas comuns.
Entrevista de João Paulo
Guerra, Diário Económico, Junho de 2005
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