Fotos
cedidas pelo entrevistado
Belmiro de Azevedo é o
maior caso de sucesso empresarial da democracia portuguesa. Em estreita ligação
com a evolução do regime democrático, mas em constante competição e sempre na
luta, em 30 anos, a partir de uma empresa de laminados, Belmiro de Azevedo
construiu um império, instalando-se em sectores de alta competitividade e
diversificando o seu portfólio de negócios pela indústria dos derivados da
madeira – de que é líder mundial –, pelo retalho alimentar e não alimentar,
centros comerciais, telecomunicações, serviços. É hoje [2005] o único português
que figura entre os homens mais ricos do mundo. Mas Belmiro de Azevedo tem um
conceito de riqueza. Vive de um muito confortável salário e riqueza criada é
riqueza reinvestida.
Formado em engenharia
química, quadro superior da SONAE, Belmiro de Azevedo seguiu o 25 de Abril pela
rádio, no seu gabinete na SONAE, saiu à rua no 1º de Maio de 1974 e partilhou a
alegria colectiva de um país «saturado pela guerra, a pobreza e os
condicionamentos». Depois, os condicionamentos foram outros e o empresário teve
que enfrentar o monopólio do Estado e alguns casos de «perseguição» que
denuncia com frontalidade e violência.
Irreverente e muito
crítico do poder e dos profissionais da política, Belmiro de Azevedo dedica 14
horas por dia à «aventura de fazer coisas». Mas o seu dia-a-dia compreende uma
vida, para além dos negócios, dedicada à cultura física e à leitura. Quando deu
a entrevista ao DE, faltavam-lhe dez páginas para acabar de ler «O medo de
existir», de José Gil, e concordava que a falta de educação, de formação, de
cultura, cria uma sociedade pouco ousada, subserviente, com medo. Belmiro de
Azevedo, pelo contrário, é um guerreiro que não quer chegar ao repouso.
E tudo começou há 67
anos, na freguesia de Tuías, concelho de Marco de Canavezes, em casa de Adelina
Ferreira Mendes e de Manuel Fernandes de Azevedo, carpinteiro, pai de oito
filhos. O mais velho chamou-se Belmiro.
A turma da escola de Tuías em 1947: Belmiro de Azevedo está ao meio da foto, na segunda fila a contar de cima |
- Nunca me senti pobre e
também não me sinto nada rico. São riquezas contabilísticas, porque eu vivo com
o meu salário, não preciso mais do que isso. Para um empresário, a sua
obrigação é de reinvestir, criar e passar riqueza para gerações futuras. Do
ponto de vista pessoal, tenho uma vida mais confortável que a média dos
portugueses, mas é uma vida frugal. Às vezes acusam-me de ser excessivamente
frugal.
-
Mas nem toda a gente tem esse mínimo. Há estatísticas da União Europeia…
- …Vinte por cento da
população no mundo vive abaixo do limiar de pobreza. Eu faço o que posso nessa
matéria, que é criar empregos, criar riqueza. Tenho pouca capacidade em
distribuir riqueza, porque isso compete sobretudo ao Estado, que cobra impostos
para fazer isso, para garantir o mínimo de sobrevivência a essas pessoas. Isto
é, as acções de solidariedade das empresas Sonae, se bem que significativas,
são apenas uma gota no oceano. Porque tudo isso tem que ser resolvido com
problemas vastíssimos de anos a nível mundial.
-
Mas para além desse problema mundial, ao nível de cada país há muitas
desigualdades internas, mesmo no nosso país. Entre ricos e pobres, litoral e
interior…
- Sim, mas nós somos o
grupo que mais cria emprego em mais partes do país, a maneira mais eficiente de
dar dignidade e conforto aos nossos colaboradores. Nós temos governos que
estragam dinheiro. Era fundamental poupar, não obrigar a poupar aqueles que já
são pobres, mas os que são médios e ricos, para distribuir a riqueza. O Estado
tem que dar o exemplo - acabar com o deficit e gerar poupança – para poder
pedir o mesmo às empresas e cidadãos.
- … E o meu professor. O
meu pai e a minha mãe foram os responsáveis por eu estar no mundo e pela minha
componente genética. Tinham comportamentos diferentes. A minha mãe tinha uma
presença e uma atitude muito mais emocional, mais carinhosa, era muito
inteligente e tinha uma grande capacidade de gerir uma família num período
muito difícil. Era no tempo da guerra mas houve sempre comida para toda a
gente. Era a galinha daqueles oito pintainhos. O meu pai era mais austero, mais
aristocrata, se é que posso dizer, porque tinha uma profissão e tinha pequenos
prédios agrícolas, que eram indicadores de riqueza em relação à média como se
vivia no período a seguir ao fim da guerra.
-
E aí entra o professor?
- O meu pai era caçador e
o meu primeiro professor da escola primária também. Eram amigos por essa via e
decidiram que eu iria para a escola do professor caçador, longe da minha casa.
Afinal, concluí que ele poderia ser bom caçador mas seguramente não era bom
professor. E mudei então para a escola de Tuías, uma bonita escola construída
pelo Estado Novo. E aí tive o professor que reconheceu as minhas qualidades e
eu as dele. Ele fez uma pequena batota, permitindo-me fazer os quatro anos da
instrução primária em três anos, recuperando o tempo que tinha perdido. Mas o
mais importante é que ele teve muita influência nos meus pais que, na altura,
nem sequer sabiam o que era uma carreira. E ele disse aos meus pais que eu,
desse por onde desse, tinha que estudar. Foi quase uma imposição sobre o meu
pai. A minha mãe era muito mais voltada para a frente nesse ponto de vista da
educação. O meu pai era mais austero e questionava-se: «Vai agora para o Porto,
depois não há dinheiro». Mas lá fui de camioneta para o Porto fazer o exame de
admissão. Fiz o exame, passei com facilidade e teria que ficar no Porto para
continuar a estudar.
-
Nesse ponto entra o seu padrinho?
- Eu não tinha casa nem
dinheiro para viver no Porto. O meu padrinho, Belmiro da Mota, era uma
personalidade que tinha feito parte da Carbonária no início do século, era
frequentemente preso pela polícia do regime, era ateu, perseguido pelo regime.
Eu fui para “casa” dele nas caves do edifício então em construção – Sanatório
D. Manuel II, que é hoje o Hospital Santos Silva, no Porto, onde ele era
fiscal. Um emprego arranjado por um amigo dele, um bocadinho à socapa, porque
ele não podia ter emprego. E então o hospital estava em construção e nós
vivíamos acampados no primeiro andar. Era aí que eu vivia. Ia a pé dois
quilómetros para apanhar o eléctrico para ir para o Liceu Alexandre Herculano. Ali
vivemos cinco anos, entre os meus 11 e os 15 ou 16 anos, até que nos mudámos
para outro edifício público em construção o que é hoje o Observatório de
Astronomia, na Serra do Pilar. Até que ele morreu. E foi a primeira pessoa que
eu vi morrer.
-
E foi o seu padrinho quem teve mais importância na formação da sua
personalidade?
Penúltimo na segunda fila |
- Era uma pessoa de um
humanismo fora de série. Era um autodidacta, lia muito e, embora sendo ateu,
tinha uma concepção de que Jesus Cristo tinha sido sobretudo um filósofo. E
tinha grandes conversas filosóficas comigo. Eu tinha tido uma educação
religiosa, tinha feito a primeira comunhão. Ainda hoje sou um católico um
bocado absentista. Mas ele, apesar de não acreditar, nunca teve uma palavra
para me desviar dos meus comportamentos nessa matéria. O meu padrinho era
rebelde e intemerato, nos seus tempos da Carbonária deitava pontes abaixo, era
da pesada. O meu espírito rebelde, de insubserviência,
talvez venha muito daí.
-
No Liceu era aluno de quadro de honra?
- Era. Tinha muito boas
notas, ia para o quadro de honra, tinha bolsas de estudo. Não era marrão mas
tinha muita facilidade em aprender, particularmente matemática, física, química,
mas também filosofia. E trabalhava. Dava explicações para financiar a minha
própria formação.
-
E terminado o liceu seguiu para engenharia química. Que perspectivas lhe dava,
no final dos anos 50, um curso de engenharia química?
- A minha opção era mais pelas
ciências do que para a parte mais humanística do ensino. E dentro das ciências
eu escolhi a engenharia, qualquer engenharia me servia, para criar coisas
novas, alterar coisas velhas, fazer mais e melhor. A opção por química teve a
ver com alguma leitura já do mercado de trabalho. A decisão foi tomada em 1956,
quando já se adivinha um grande ‘boom’ da indústria química. Foi quando cresceram
a CUF, a Sacor. Não só havia muitos empregos como eram empregos modernos. Por
outro lado, dos cursos de engenharia, o de química era o mais generalista,
sabia de todas as outras engenharias e tinha que interagir com os
electrotécnicos, os mecânicos, os civis. Não só na formação como na prática.
Também não havia escolas de gestão e o único curso que dava alguma formação que
se aproximava das exigências da gestão moderna era o de engenharia química e
industrial e talvez o de finanças, em Lisboa.
- Nós somos um país de
ciclos. Fomos muito ricos, ficámos muito pobres. Tivemos os descobrimentos, o
Brasil, a Índia, o ouro, especiarias, mas depois nunca fomos capazes de
reinvestir no momento certo. A República, que pretendia corrigir muitos
defeitos de concentração de poder e de falta de cidadania, foi uma rebaldaria,
como se diz na minha terra. Nunca houve uma linha de rumo. O Salazar teve uma
atitude importante, durante quatro ou cinco anos, até à Constituição que lhe
deu muito poder. Eu era anti-salazarista mas nunca fui perseguido porque não
era um activo revolucionário. O meu tempo era mais para estudar, praticar
desporto e dar explicações. Era irreverente. Portugal viveu sempre em altos e
baixos. Tivemos a alegria do 25 de Abril, que provocou algum desperdício do
ponto de vista material e problemas humanos, mas depois a adesão à Comunidade
levantou-nos muito o moral e tivemos dez anos muito prósperos. E lá voltámos a
fazer a mesma tolice de não aproveitarmos o bom momento para arrumar a casa.
Anos
60 e 70
O
chefe da tribo SONAE
Belmiro de Azevedo deu os
primeiros passos da vida profissional numa empresa têxtil da qual saiu, ao fim
de um ano, para a SONAE – Sociedade Nacional de Aglomerados e Estratificados,
do grupo Pinto de Magalhães. Era uma empresa falida mas, «daí para a frente,
foi sempre a andar».
Com Afonso Pinto de Magalhães |
No 25 de Abril de 1974 estava
na SONAE. O velho Afonso Pinto Magalhães exilou-se no Brasil. Belmiro de
Azevedo optou por «ficar e lutar». «O risco faz parte de mim», diz. Quando o
accionista voltou do Brasil recebeu uma empresa «que valia muito mais». Mas o
conflito com a família Pinto Magalhães foi duro. Como dura foi a luta com o
accionista Estado, que entrou na empresa por via das nacionalizações. Sem
procurar facilidades, Belmiro de Azevedo foi vencendo no mundo de oportunidades
que tinha à sua frente.
-
Começou a sua vida profissional numa empresa têxtil e em 1965 entrou, como
quadro técnico, para a SONAE. O que era a SONAE em 1965?
- Era uma empresa falida.
Uma empresa pequena, tinha umas 50 ou 60 pessoas. Mais do que entrar na SONAE
eu saí da EFANOR, que era uma empresa anquilosada, sem estratégia, uma empresa
a morrer e eu não queria morrer com ela. Demiti-me no último dia do ano de
1964, recebi o último salário e uma gratificação, de que eu precisava para
pagar a última letra do frigorífico. E em 2 Janeiro de 1965 comecei na SONAE.
Era um desafio novo, numa empresa que tinha carácter internacional, e para lá
fui como investigador. Quando lá entrei percebi que era preciso mais bom-senso
que investigação. Eu insisto nessa regra de que é preciso ter educação,
formação, informação e muito bom-senso. Adoptei algumas medidas de bom-senso
que corrigiram coisas evidentes e daí criei uma aura de tipo capaz de dar a
volta às situações. Marcar os primeiros golos, o que é muito importante, não
apenas no futebol, mas no governo, nas empresas. Não empatar o jogo, não
prolongar o jogo com truques. Ser rápido nas decisões.
-
E qual foi concretamente o seu papel na mudança que se deu na empresa?
- Aquilo que hoje se
chama capacidade de empreender. Corrigi erros rapidamente, procurei alavancar
ao máximo os recursos humanos e materiais que havia e viver no mundo. Aquela
empresa tinha para mim um atractivo muito grande que era o facto de importar
matérias-primas de cinquenta países e vender para cinquenta países. Tinha o meu
formato de empresa de âmbito internacional num ambiente competitivo. Fiz uma
equipa e daí para frente foi sempre a andar até chegar nos inícios dos anos 80
a grande empresa [vendas 20 milhões de contos - €100 milhões]. A SONAE era
considerada grande e vendia por ano 20 milhões de contos. Hoje vendemos 70 ou
80 vezes mais. E de umas centenas de trabalhadores, hoje temos 60 mil. As
coisas andaram depressa.
-
Que futuro teria uma empresa como a SONAE, com o regime do condicionamento
industrial?
- O condicionamento
industrial atrapalhou-me várias vezes. Nós precisávamos de resinas para os
nossos produtos e tropeçámos no condicionamento industrial que protegia os
senhores do antigamente, os Champalimaud, os Mellos, os Espírito Santo. Era o
monopólio das pessoas que tinham os alvarás. Nessa altura os alvarás é que
diziam quem ganhava dinheiro e quem não ganhava. E quem ganhava num ambiente
confortável não competitivo. Portanto, fui confrontado com esse condicionamento
industrial. Para fabricar resinas, aquilo que estava condicionado era a chamada
química básica. E nós entendíamos que formaldeído, resinas não era química base
mas de segunda geração. Nós utilizávamos dois produtos químicos para fazer um
terceiro produto químico. E isso demorou muito tempo a reconhecer a evidência.
-
E confrontou-se com os monopólios antes, mas também depois do 25 de Abril?
- Mais tarde
confrontei-me com outro monopolista, que já não eram os Mellos, os Champalimaud
e os Espírito Santo, mas era o Estado português, naquela loucura das
nacionalizações. Mas aí eu fui um homem pragmático. Porque uma coisa é lutar
contra o condicionamento industrial. Outra coisa é reconhecer que tinha havido
uma profunda mudança no poder político em Portugal mas não se previa que tão
cedo houvesse mudanças. De maneira que me meti ao caminho e pensei: o que é que
eu posso fazer que não foi tomado pelo Estado? Em vez de chorar por não poder
fazer químicas, ou adubos, ou aço, eu comecei a desenvolver a indústria dos
produtos florestais. Depois, a distribuição alimentar em Portugal, que era então
um desastre, com pobres mercearias em cada esquina, sem tratamento higiénico
dos produtos, sem cadeia de frio. Portugal é hoje um dos países mais evoluídos
na distribuição, que leva os produtos a casa mais barato e com mais conforto. E
isso foi feito num período em que nenhum outro país fez. O primeiro
hipermercado foi inaugurado em fim de 1985. Em 20 anos temos o sistema mais
moderno e mais competitivo da Europa. Mais tarde, foram os centros comerciais.
Com Rogério Martins, a indústria no tempo do condicionamento industr |
-
Foi mais fácil ao Estado abrir mão da banca que da televisão. É isso que quer
dizer?
- A pressão para abrir a
banca foi muito forte internacionalmente. Num sistema social-democrata, regime
mais ou menos capitalista, ter um sistema financeiro seguro e competitivo é
muito importante pois é preciso muito dinheiro, captando fundos, no mercado. O
Estado apercebeu-se que não tinha a mínima hipótese. O Estado teve que
despachar o sector financeiro por várias razões. Porque via-se livre de um
grande pesadelo, não tinha dinheiro para responder ao crescimento. Quanto à
comunicação social, consumia muito dinheiro. Mas eu acho que todos os governos
gostam de ter a mãozinha na comunicação social. E era um brinquedo que, sendo
caro, dava jeito e tentou todos os governos, com mais elegância, ou menos
elegância…
-
Às vezes sem elegância nenhuma…
- … Às vezes sem
elegância nenhuma, também conheço algumas histórias dessas.
-
Mas estávamos a falar do condicionamento industrial. Acha que foi a maior
mudança na economia do país?
- Libertou mais alguns
sectores. Eu não peço. Exijo. Mas não exijo nada para mim. Nunca pedi nada para
a SONAE. O que exigi foi que se abrisse o Estado à sociedade, a toda a gente.
Eu não tinha nada com o antigo regime, nem do ponto de vista político, nem como
benefícios resultantes do período condicionado. Eu sempre vivi com o risco. O
risco faz parte de mim. O que aconteceu é que a seguir ao 25 de Abril a maior
parte das pessoas que tinham a ver com o desenvolvimento industrial não estavam
cá, andavam por esse mundo fora, umas fugidas, outras desiludidas, criou-se uma
situação de falta de pessoas com capacidade e a nova geração demorou um bocado
a aparecer. Eu assumo que o corte que a revolução significou foi
desnecessariamente caro, foi desnecessariamente injusto para muitas pessoas,
mas criou um novo ponto de partida para muita gente.
-
Como lhe perguntaria o Baptista-Bastos, onde é que estava no dia 25 de Abril?
- Eu saía de casa sempre
pelas 7 horas, ia no carro, na Via Norte, estava a 500 metros da SONAE, e ouvi
o primeiro comunicado das Forças Armadas. Portanto, estava debaixo do viaduto
que vai para a Maia, a caminho da SONAE. E continuei. Normalmente, quando
chegava ia fazer ‘jogging’. Mas nesse dia não fui. Quis seguir o que se estava
a passar. E fiquei impressionado como tão fácil foi. Foi só abanar. As pessoas
estavam saturadas por variadíssimas coisas: pela guerra, pela pobreza, pelos
condicionamentos. Lembro-me do 1º de Maio, no Porto…
-
Assistiu ao 1º de Maio?
- Assisti. Eu sempre fui
irreverente, na Universidade, na tropa (apanhei oito dias de detenção), e
conhecia muito bem algumas pessoas como o arquitecto Artur Andrade, meu
senhorio, que foi secretário da candidatura do Humberto Delgado. Antes do 25 de
Abril andei sempre informado sobre o que passava, fui a manifestações, apanhei
uma carga de água dos carros da Polícia na Rua de Santo António. Conhecia o pai
do Dr. Artur Santos Silva, o Óscar Lopes, Rui Luís Gomes, Laureano Barros,
gente daquela que tinha que ter sempre a malinha feita para ir passar uns dias
fora, por precaução, ou para ir passar uns dias à PIDE.
-
Mais tarde, a nacionalização do Banco Pinto Magalhães arrastou a intervenção na
SONAE. Foi o seu primeiro conflito com o novo Estado?
- Foi uma coisa tola, que
destruiu pessoas e empresas. Conheço pessoas que me contaram histórias internas
do PC. Para eles era muito estranho que eu não estivesse contaminado com
qualquer coisa. Foi uma frustração. E depois eu trabalhava com um grupo de
trabalhadores muito aberto, moderno. E então fizeram várias coisas para me
assustarem. A perseguição era no sentido de mudar a administração, pôr outros
administradores, comissários políticos sem competência nenhuma. Quiseram entrar
na SONAE mas os trabalhadores não deixaram. A SONAE era uma tribo e eu era o
chefe da tribo. E aquilo foi uma luta dura. Eu era funcionário da SONAE, tinha
17 acções, mas era um estratega. Na altura usei alguns truques como os que o
Partido Comunista tinha. Fez-se uma greve na SONAE, que foi chamada “a greve reacionária”,
a greve ao contrário, por defender a permanência da administração e direcção da
SONAE contra a entrada dos administradores nomeados pela banca e pelo IPE. Eu
sabia a força que tinha e não era inocente. A força é para ser usada. E então
demiti-me. Eu sabia que a minha demissão não seria agradável para o Governo nem
para a própria Comissão Administrativa do banco. Comigo demitiram-se todos os outros
directores. A fábrica continuou a trabalhar mas de uma maneira intermitente.
Trabalhava o número de dias necessário para manter a caixa e pagar aos
trabalhadores. E sempre pagou durante esse período. Faziam as chamadas greves
descontinuadas. Foi uma engenharia político-laboral, criando perturbação
política sem criar perturbação social.
-
Disse numa entrevista que «a generalidade dos empresários entrou em pânico com
a revolução», contrapondo a sua atitude, descontraída. Quando é que percebeu
que o 25 de Abril não era apenas um golpe militar mas uma revolução?
- Eu leio muito. E gosto
muito de ler política. Não gosto de exercer política porque é uma frustração. E
portanto não demorei muito a perceber o que se estava a passar. A minha opção
foi ficar e lutar. Não devia nada em relação ao passado, tinha muita coisa para
fazer e do ponto de vista das oportunidades tinha todo o mundo à minha frente. Eu
escrevi uma longa carta ao Conselho da Revolução. Foi quando percebi que me
tentavam empurrar. Nessa altura havia muita gente do Norte que ia até Vigo e
ficava por lá. A carta dizia que eu não saía de Portugal, não jogava esse jogo.
Já li que teria havido uma ordem para me prenderem mas nunca deram esse passo.
Mas eu era incómodo como o diabo, não conseguiam pegar-me por nada e portanto
teriam que me passar uma rasteira qualquer. Mas eu fui desportista, sei fazer
fintas, não me deixo fintar com facilidade.
- A SONAE praticamente
viveu sempre em auto-gestão. Pinto de Magalhães não tinha nenhuma interferência
na Sonae. Era uma empresa com gestão moderna. Aquilo era mesmo para andar para
a frente e ir conquistando mais mercados, exportando mais. Portanto, eu já era
empreendedor no sentido do empresário que empreende. Não era detentor de
capital. Ali geri o capital do accionista Pinto de Magalhães, mesmo quando ele
esteve afastado no Brasil, sempre da maneira mais isenta possível. Ele chegou,
voltou a receber uma fábrica que valia muito mais nessa altura e eu continuava
com as mesmas 17 acções. Essas acções foram compradas quase por brincadeira.
Havia um senhor que tinha morrido e eu, para que as 100 acções que ele tinha
não fossem lá para o monte do Estado, disse à família que nós na empresa
ficávamos com elas. Fez-se uma reunião, com um quadro na parede, e toda a gente
que quis foi comprando acções. Sobraram 17. Eu fiquei com as acções que
sobraram.
-
Mas depois não ficou por aí. Como é que chegou aos 55 por cento do capital da
SONAE?
- Isso é outra história.
As outras acções, devido à indefinição do governo e do sistema financeiro,
acabavam por não ter dono. Grosso modo, 80 por cento eram de Afonso Pinto de
Magalhães. Mas como estavam arroladas não serviam para nada. Era como se fossem
do Estado. Salvo que não tinham poder de voto. De maneira que durante cinco
anos, havia 25 milhões de acções e eram 100 acções que tomavam as decisões. Os
outros abstinham-se. E a empresa foi gerida muito bem porque, como lhe disse, a
empresa já estava em auto-gestão e tinha uma motivação, que era criar riqueza,
ser competitiva. Portanto, era quase indiferente quem era o accionista. Mais
tarde, quando Afonso Pinto de Magalhães recuperou os 80 por cento, quando o
processo-crime que o Estado lhe instaurou terminou, ele vendeu-me, a um preço
simbólico, 20 por cento das acções. E eu dei 20 por cento das minhas acções aos
trabalhadores. Assim esteve durante muito tempo.
-
Que relações manteve com a família de Afonso Pinto de Magalhães?
- Ele era muito meu
amigo, o que criou uma situação de inveja das filhas e dos genros, (dizia-se
que eu seria o filho que ele gostaria de ter tido). Eu cheguei a fazer um
documento para ele, dizendo que não trabalharia um segundo com os herdeiros,
porque os considerava medíocres. Quando ele esteve doente, eu é que tratei de
tudo, mandei vir um médico de Inglaterra. A família demorou muito tempo a
chegar cá. Quando ele morreu tratei de funeral. Cumpri, digamos, as funções de
filho. Fiz aquilo que devia fazer. O testamento dele foi feito no hospital e a
única testemunha fui eu. A família herdou tudo, ficou riquíssima e eu anunciei
que me ia embora, tal como dissera na carta a Afonso Pinto de Magalhães. A
família ficou aflita, não queria mandar na gestão da empresa, vendeu-me metade
da posição. Houve um banco que, de uma maneira quase milagrosa, me emprestou
muito mais dinheiro do que eu imaginava que alguém me emprestasse. Eu disse-lhes
que a família de Pinto de Magalhães queria 100 mil contos pelas acções e o
gerente do banco respondeu-me: “Escreva o cheque.” E eu perguntei se ele estava
a brincar comigo. “Escreva o cheque”, insistiu ele. E eu escrevi, sem saber se
no dia seguinte aquilo tinha cobertura. E não descansei enquanto a família não
me telefonou a dizer que tinha descontado o cheque. Costuma dizer-se que para
ter sorte e preciso comprar um bilhete da lotaria. É preciso trabalhar para ter
sorte.
- Já tinha casa, tinha
filhos. Eu tinha sido assistente na Faculdade de Engenharia. Poderia seguir a
carreira académica. Conhecia bem o sector industrial, era prestigiado. Mas a
carreira académica não era bem o que eu queria. Eu gosto é de fazer coisas.
-
E houve alguma alteração pelo facto de passar de director-geral da empresa a
detentor da maioria do capital?
- Nada. Eu nem dividendos
recebi durante muitos anos. É tudo reinvestido. O salário que ganho chega e
sobra para aquilo que preciso. Costumo dizer que a diferença entre o nascer e
morrer é um fatinho e um par de sapatos. As pessoas esquecem-se disso. Mas não
levam nada. Os egípcios é que metiam nos túmulos muitas jóias.
Anos
80 e 90
O
perfil do Homem / SONAE
Com a democracia
estabilizada, e com o controlo accionista da SONAE, Belmiro de Azevedo
lançou-se na criação de novas empresas e à conquista de outros mercados. Na
indústria chegou a líder mundial no sector dos derivados da madeira; no mercado
nacional do retalho alimentar, criou grandes cadeias de hipermercados com 400
lojas; nos centros comerciais criou estabelecimentos da maior dimensão
nacional, ibérica e do Brasil. Expandiu os seus negócios por três continentes,
diversificou-os pelo retalho especializado, pelas telecomunicações, turismo,
comunicação social. Nem sempre foi fácil e o empresário teve conflitos
históricos com alguns governantes e dirigentes políticos.
Era este o espírito de
empreender, o perfil de líder do Homem SONAE, um retrato de quem Belmiro de
Azevedo «gostaria de ser».
-
O perfil do Homem / SONAE, que traçou em 1985, era o seu auto-retrato?
- Eu sou muito
espontâneo. Mas tenho na cabeça muitas ideias, um bocado à semelhança dos
poetas. De repente, sai poema. E aquele documento foi manuscrito, uma hora
antes da reunião. Se era o meu retrato, não sei. Parcialmente, era. Mas era,
sobretudo, o retrato de quem eu gostaria de ser. Era um código de ética, de
comportamentos, um incentivo à acção de empreender. Qualquer grupo tem que ter
um líder, porque a sociedade é assim. As tribos eram assim. A sociedade está
toda organizada desse modo. Há pessoas que são excelentes a executar mas que
não querem liderar, têm medo, não querem tomar decisões. Essas não servem para
líderes. Mas fazem coisas que os líderes não fazem.
-
O seu grupo empresarial cresceu, diversificou-se. Há pouco disse que gosta de
fazer coisas. Essa é a característica do seu grupo empresarial?
- Eu só estou em sectores
onde tenha alta competitividade. Se não era quase uma espécie de
condicionalismo. Na distribuição, estão cá todos os europeus, para além de ter
um concorrente português grande. Entrámos nas telecomunicações onde há um jogo
mundial, à batatada. Na indústria virámos o problema ao contrário e somos de
facto a primeira grande empresa que tem uma presença mundial enorme, é líder
mundial. Estou sempre nas iniciativas fundamentais. Mas o que eu faço mais,
neste momento, é garantir a qualidade dos recursos humanos. Se calhar a herança
maior que eu deixo na SONAE é deixar nas pessoas uma voracidade para adquirir
conhecimentos. Porque hoje o mundo anda tão depressa, as tecnologias mudam tão
depressa, que se as pessoas não estão à tabela, num ambiente competitivo,
quando derem por elas já estão obsoletas. A passagem de muito bom a muito mau é
rápida.
-
O seu portfólio de negócios chegou ao topo ou é para continuar?
- Sempre para continuar.
-
É uma necessidade?
- É uma obrigação. Porque
os negócios maduros deixam de dar gozo. A indústria, a distribuição, os centros
comerciais no seu conceito, são negócios maduros. Mas as telecomunicações são
um novo viciozinho. Nós tínhamos perdido mal duas coisas: a televisão e, mais
tarde, perdemos o primeiro concurso de telefones móveis. Fomos indecentemente
batidos pelo lóbi das comunicações. Foi negócio político, com batota da grossa.
Nessa altura veio cá um ex-candidato à presidência dos Estados Unidos fazer
lóbi pelo projecto ganhador. Deu certo para eles e nós perdemos. Mas nós
entendemos que telecomunicações, ‘software’, etc., vão ser alavancas do sector
empresarial.
-
E o Estado, continua a atrapalhar?
- Temos que ter
paciência, às vezes. Estamos pelo oitavo ano à espera, mas Tróia ainda não foi
aprovado completamente. Temos é que ter um ‘pipeline’ com um número suficiente
de processos de desenvolvimento, projectos futuros, porque, infelizmente,
criou-se em Portugal uma atitude doentia, mesquinha, que é ter uma inveja do
sucesso.
-
Está a falar de algum caso em particular?
- Nós, durante três anos,
fomos travados na secretaria para abrir supermercados. E a concorrência teve os
que quis. Licenças que não eram dadas, vulnerabilidades de municípios às
licenças de uns amigos, etc. Eu só digo que sendo um indivíduo que gosta de
descentralizar, acho que essa coisa de descentralizar as licenças é uma tolice
desgraçada, porque os pontos de corrupção multiplicam-se. E eu, que não sou de
calar, quando sei de qualquer coisa digo logo, por vezes reajo com violência.
Eu não peço favores. Mas exijo decisões. Os meus fornecedores exigem-me que
lhes pague, os meus trabalhadores exigem salários e decisões. Eu também exijo
que o Estado decida. Sendo exigente, eu dou um contributo muito maior, do ponto
de vista da cidadania, ao Estado e ao povo português. E não tenho problema. A
SONAE governa a sua empresa com qualquer governo.
-
Tem sido, em geral, muito crítico em relação ao poder político e aos políticos.
Isto é uma estratégia ou o simples resultado de uma avaliação das maneiras de
governar?
- São muitas promessas e
poucas acções. É esse o problema. A taxa de cumprimento das promessas, eu
costumo dizer que não deve atingir os 10 por cento.
-
Mas há casos particulares de conflito…
- Há um exemplo, que está
no nosso relatório deste ano. A maneira como fomos corridos da Portucel é
impressionante. Nós tínhamos que fazer quatro coisas: aceitar um sócio
estrangeiro, ser minoritários, ter mercado de capitais bem abastecido e
tínhamos que fazer imediatamente uma fábrica de papel em Setúbal. Não aceitámos
isso. Era uma imposição de um morto sobre um vivo. Nós desistimos, fomos
corridos. Com todo o respeito, e desejo muito boa sorte ao grupo que ficou com
a empresa, mas que nem tem sócios estrangeiros, nem é minoritário, é quase
totalitário, o ‘free-float‘ foi reduzido praticamente a zero, e há dias li que
estava a considerar fazer a fábrica noutro sítio. As quatro exigências não se
cumpriram. Portanto, eu não queria usar a palavra perseguição, mas a SONAE tem
sido prejudicada.
-
Perseguido? E por quem?
- Olhe, pelos chamados
ministros soviéticos da economia, Pina Moura e Carlos Tavares, curiosamente um
de cada partido. Os ministros da economia deviam preparar propostas de
legislação e regulamentar. Mais nada. Mas passam a vida a discutir as empresas.
E os conselhos de ministros não funcionam. São muitos ministros. A maior parte
dos documentos que são aprovados, 80 por cento dos ministros aprovam-nos de
cruz. E depois os decretos ficam à espera de “melhoramentos”. Há decretos com
erros de português. Tudo feito à pressa e não pode ser de outro modo. No
Governo do Santana Lopes, um dia aprovaram oitenta e tal decretos. Há tipos
estritamente ignorantes que chegam a secretários de Estado e passam a mandar em
directores-gerais que, esses sim, sabem normalmente bastante mais.
Actualidade
e Futuro
A
aventura de fazer
No final dos anos 90,
Belmiro de Azevedo foi pela primeira vez cotado pela revista Forbes entre os
homens mais ricos do mundo. «A riqueza serve para reinvestir», diz o
empresário, contrapondo aos que gostam de enriquecer rapidamente e em força os
que aceitam o desafio da «aventura de fazer». O universo SONAE prepara o futuro
e Belmiro de Azevedo está presente, detectando os quadros que emergem nas
empresas. Sempre atento à formação e à inovação, numa atitude de verdadeira
modernidade, o empresário está a criar o maior legado que poderá deixar, para
além dos bens patrimoniais: um espírito novo, uma dinâmica para continuar, para
fazer mais.
A família Azevedo: Nuno, Belmiro, Maria, Cláudia e Paulo |
-
Se a SONAE pode ser apontada como um grande sucesso da democracia, porque é que
o país não atinge também o sucesso?
- Nós somos uma sociedade
que tem medo. Medo de existir, como diz esse filósofo que está muito na moda,
José Gil. A sociedade portuguesa é subserviente. A facilidade com que se muda
de opinião é enorme. Temos um grande défice de pessoas corajosas, que lutem por
ideais. Eu votei em Mário Soares pela coragem dele, e não pelos princípios que
ele defendia. É um líder, fez muitas coisas. Aliás, era um duplo benefício.
Íamos ter um bom Presidente da República e víamo-nos livres de um péssimo primeiro-ministro.
Com a revolução portuguesa, nós tivemos, à esquerda e à direita, políticos
experientes, sensatos, que sabiam utilizar o bom-senso. E de repente, se formos
ver os últimos governos, não há praticamente ninguém que tenha tido um
trabalho, uma vivência de dificuldades na vida. E agora, o que se passou com o
fenómeno de Santana Lopes! Acho que o Santana Lopes devia ter levado um banho
três vezes maior. Como é que é possível, ele ainda ter tido tantos votos. Nós
criámos o carreirismo. E o carreirismo depois cria um povo amordaçado, pouco
ousado. José Gil diz que somos um povo com medo.
-
Com a formação que proporcionou aos seus filhos, estava a pensar em criar os
seus seguidores, os sucessores?
- Não, nada,
absolutamente nada disso. Monarquia, sou absolutamente contra. Quando é a linha
sanguínea que manda, a probabilidade de desencorajar os profissionais é muito
grande.
-
Então, o que fazem os seus filhos com a formação que lhes proporcionou?
- Um deles, o Nuno, foi
jornalista, trabalhou intensamente 10 anos na Sonae Distribuição e na Sonae
Indústria. Está hoje com a Fundação Portugal – África, tem um grupo grande de
pessoas a trabalhar com ele e é administrador da SONAE SGPS, tem ligações com o
Banco Mundial, está nestas coisas do desenvolvimento sustentado, está no WBCSD
e na Fundação Serralves. O Paulo está muito ligado a tudo, especialmente às
telecomunicações. E a Cláudia esteve no Banco Universo e está na Sonaecom,
gosta muito de negócios, de ‘marketing’ e é uma chefe de tribo. Portanto, fiz alguma
coisa por isso, em termos de desenhar a educação deles. Mas o mérito é
fundamentalmente deles.
-
E qual o papel da sua mulher?
- Eu sou mais austero,
mais exigente, a minha mulher é muito mais emocional. Mantém uma grande relação
entre toda a família, agora também com os netos. Mas na família cada qual toca
a sua viola, mas a minha mulher é que mantém a coesão
-
A família, encontra-se?
- Para manter esta
família unida, é preciso que esteja ‘desunida’ no dia-a-dia, na vida física. Na
aldeia, eu vivo numa casa que era a casa dos meus pais. E cada um tem uma casa
separada. É uma espécie de um condomínio no meio de uma quinta. Cada qual tem a
sua casa, tem os seus amigos, e juntamo-nos de vez em quando. Para mim isto é
muito importante: eles têm que fazer o que quiserem, como quiserem, da melhor
maneira possível. E sei que têm a minha ideia de riqueza. A riqueza serve para
reinvestir. Há muita gente que gosta de ganhar dinheiro muito depressa. Mas há
muita gente que gosta de viver esta aventura de fazer.
-
Nas suas empresas, é insubstituível?
- Eu não tenho a mínima
pretensão de ser o melhor. Não tenho. Eu sigo a carreira de 200 gestores de
topo, 50 das quais muito de perto. A minha grande preocupação é saber quem é
que está a emergir na organização. Essa é a minha grande obrigação. Os meus
filhos fazem parte desses que estão a emergir na organização e que hão-de ter o
lugar que eles quiserem e merecerem, uns têm mais jeito para umas coisas,
outros para outras.
- A minha mulher
queixa-se que eu tenho o tempo mal gerido e se calhar tem razão. O meu dia-a-dia
é relativamente simples. Levanto-me às 7 e vou para a cama entre as 11 e a
meia-noite. De dia faço reuniões, tomo decisões, que é onde vem ao de cima a
minha componente emocional. As emoções notam-se ao tomar decisões. Ao fim do
dia, ocupo duas horas em que só estudo, só leio. É a necessidade da razão. As
minhas leituras têm mudado muito. Interessei-me muito pela história das
civilizações, das religiões, gosto muito de entrar no domínio complexo do
cosmos, o que tem muito a ver com a minha capacidade de ler temas de ciência.
Enfim, o dia tem 24 horas e eu estou activo 14.
-
E para se informar, lê o Público?
-
Leio o Público e depois tenho uma empresa que faz aquilo que é chamado o
‘clipping’, que é um pacote de cópias dos artigos de assuntos que considero
interessantes de outros jornais e revistas. Mas o Público é um jornal que eu
gosto de ler, regularmente. Mas leio o importante dos jornais económicos, leio
jornais estrangeiros, o Financial Times, o Wall Street Journal, The Economist,
Business Week, El Pais com alguma regularidade, e continuo a gostar de Le
Monde.
2 comentários:
Este sujeito deu uma rasteira em Afonso Pinto de Magalhaes, avô do meu amigo Rodrigo Pinto de Barros, falta de caráter
Na entrevista, Belmiro de Azevedo fala da sua relação com Afonso Pinto de Magalhães e seus familiares e conta uma versão bem diferente do qualificativo de "rasteira" usado por Kleberc Pereira. Os leitores que avaliem.
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