
João Paulo Guerra,
in Diário Económico, 22 de Abril de 2004
in Diário Económico, 22 de Abril de 2004
O Programa de Política Económica e Social foi apresentado ao país no dia
21 de Fevereiro de 1975. Resultado do trabalho de um grupo coordenado pelo
major Ernesto Melo Antunes, ministro sem pasta do II Governo Provisório, o
Programa constituía «uma versão moderada de um intervencionismo que era
necessário», segundo um dos seus autores, o então ministro das Finanças, José
Silva Lopes.
Cem páginas, sete capítulos, constituindo um plano económico de transição
para um período de três anos, o Programa continha ainda 70 medidas a curto
prazo destinadas a atacar «os problemas imediatos da economia portuguesa». Ao
apresentar o Plano que ficou com o seu nome. Melo Antunes sublinhou que se
tratava da «convergência possível» entre o Movimento das Forças Armadas e os
partidos da coligação – PS, PPD e PCP –, segundo concepções que rejeitavam quer
«os modelos da social-democracia, quer os das chamadas democracias populares».
E se o Programa do MFA, divulgado em 25 de Abril, apontava para uma «estratégia
antimonopolista», o Plano, sem medidas concretas que pusessem em causa a
propriedade privada dos meios de produção, avançava na «transição do sistema
capitalista para a sociedade em que o socialismo será prevalecente», segundo
palavras de Melo Antunes.
Mais de trinta anos depois, Silva Lopes disse ao Diário Económico que o
Programa foi aprovado em Conselho de Ministros, «embora sem grande entusiasmo»,
mas de imediato foi alvo de contestação por parte do PCP, do MES e de sectores
do PS. A «esquerda radical e as cabeças quentes do MFA» consideravam o Programa
social-democrata, o que na escala de valores da época seria «pouco menos que fascista».
E os autores mais visíveis do Programa, os ministros Silva Lopes e Rui Vilar,
não escaparam às críticas. «Chamavam-nos ‘o ventre mole’ da revolução», recorda
o então ministro das Finanças.
Elaborado ao longo de duas semanas por um grupo de trabalho reunido num
hotel em Sesimbra, o Programa juntava os contributos dos ministros das Finanças
e da Economia, Silva Lopes e Rui Vilar, de Vítor Constâncio, secretário de
Estado do Planeamento, e de Maria de Lurdes Pintasilgo, ministra dos Assuntos
Sociais. Ao longo das duas semanas de trabalho, o grupo recolheu várias ideias
e contributos. Silva Lopes recorda-se da visita do economista Mário Murteira, «recomendado
pelo MFA». Melo Antunes redigiu o preâmbulo do documento e apresentou-o ao país
como «propostas socializantes» de «um modelo não dogmático e não sectário».
«Controlo do poder económico»
A economia portuguesa, segundo Silva Lopes, tinha entrado no «caminho
para o desastre» em Outubro de 1974. Com os preços controlados
administrativamente, os salários aumentaram em média 40 por cento, valor
idêntico ao aumento das matérias-primas. O Governo Provisório começou a
injectar dinheiro em empresas em dificuldades. Salvaram-se empresas e
garantiram-se postos de trabalho à custa de «injecções de liquidez, com juros
baixos» por parte do Banco de Portugal.
Nesse contexto, o então ministro das Finanças considera que era
necessário «um controlo muito apertado da banca». O que se temia era a fuga de
capitais, «que em parte se verificava», diz Silva Lopes. Mas o Programa de
Política Económica apenas previa uma «política de controlo do poder económico»
e, no sector financeiro, a «dinamização das instituições de crédito do sector
público». Já em relação ao sector industrial, o Programa admitia a aquisição,
por parte do Estado, «de partes sociais e outras formas de intervenção que
poderão ir até à nacionalização».
Após o 11 de Março de 1975, com ascensão da esquerda revolucionária e a
criação do Conselho da Revolução, tudo se precipitou. Na noite de 11 para 12 de
Março, a Assembleia do MFA preconizou de imediato a nacionalização da banca e
dos seguros, consumada por decreto de 14 de Março, três semanas após a
apresentação do Plano Melo Antunes.

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