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sábado, 10 de janeiro de 2015

Savimbi Vida e Morte

A Longa Marcha
por Nicole Guardiola

Disse João Paulo Guerra que teria preferido que “Savimbi, Vida e Morte” tivesse sido publicado, como era sua intenção, antes da morte do fundador da UNITA (22/02/02). É compreensível: em Portugal é ainda considerado de mau gosto «dizer mal» de um defunto. O autor teve a coragem de não retocar o retrato que tinha desenhado, a traços fortes, do chefe do Galo Negro, limitando-se, no prefácio, a situar a morte de Savimbi no fim de um itinerário norteado pela conquista do poder, com a guerra como instrumento desde a independência de Angola, em 1975.
«A vida de Savimbi for de morte», escreve João Paulo Guerra. Era esse o sentido do título e o epílogo só podia ser o que foi: a «morte matada», algures no mato do Leste de Angola, onde Savimbi iniciara a sua «longa marcha». QA propaganda da UNITA faz arranca a caminhada de Savimbi do Muangai, onde a 13/13/1966 fundou a sua organização e assumiu o título de «Presidente», do qual nunca mais abdicaria. Na realidade, a luta pelo lugar cimeiro a que se considerava predestinado começara vários anos antes e explica a deambulação inicial de Savimbi pelos outros movimentos de libertação, da UPA-FNLA de Holden Roberto ao MPLA, e o «ecletismo» das suas alianças tácticas. E seria, depois do 25 de Abril, o motor das suas sucessivas «guerras» contra o poder instalado em Luanda, mudando de bandeiras e aliados ao sabor dos tempos. Só quem esqueceu as infindáveis disputas sobre o «estatuto especial» a atribuir ao líder da UNITA depois da assinatura do protocolo de Lusaka, em 1994, acabando por recusar a vice-presidência de Angola, criada para o efeito, pode omitir a importância desta «vocação» nos elogios póstumos ao criador do Galo Negro.
“Savimbi, Vida e Morte” não traz revelações inéditas mas tem o mérito de compilar e sistematizar muitos dados, dispersos por arquivos, obras publicadas e esquecidas, declarações e cartas do próprio Savimbi, ocultos sob o manto do mito. Um trabalho de referência, apoiado por uma cronologia sólida e uma bibliografia exaustiva, que corrigem muitos erros e falsificações deliberadas.
O autor não esconde que considera Savimbi o principal responsável, não do conflito angolano, mas da impossibilidade de o resolver por meios não militares. É uma opinião, embora bem documentada e partilhada muitos angolanos e estrangeiros, e mesmo por aqueles que se empenharam na procura de outras soluções. Ajuda a compreender as novas perspectivas que se abrem em Angola com a sua morte, nomeadamente para a UNITA e os dirigentes sobreviventes, que vão ter que criar o que nunca existiu em Angola: um grande partido democrático de oposição. Para essa tarefa, Savimbi não será uma ajuda, antes um exemplo a não repetir. Bertrand, 2002, 350 páginas
Nicola Guardiola, Expresso, 11 Maio 2002

        

                  Perfil impiedoso, por Celso Filipe 
João Paulo Guerra traça, no seu livro (quase todo escrito antes da morte do líder da UNITA) um perfil impiedoso de Jonas Savimbi. Coloca em causa os motivos que o fizeram entrar na luta, coleciona factos sobre a sua ambição desmedida para chegar ao poder, questiona a sua orientação política que, na opinião do autor, vagueia ao sabor dos ventos da conjuntura internacional, e recorda os muitos dos seus colaboradores que foram aniquilados ou tiveram a sorte de desertar da célebre capital da Jamba.
João Paulo Guerra não aponta uma única qualidade a Savimbi. Mas a obra tem o mérito de estar absolutamente defendida, através das inúmeras notas de rodapé e das referências bibliográficas que sustentam a sua tese. E esta, em traços gerais, resume-se aos factos de Savimbi ter servido, primeiro, o exército colonial português, depois a África do Sul e finalmente os EUA contando com o apoio de alguns países africanos, nomeadamente o ex-Zaire.
A verdade é que Jonas Savimbi se afastou do mundo diplomático, talvez porque já não tinha nada para dar em troca, tornando-se um guerrilheiro que se casou com as matas, e que foi perdendo espaço junto dos países e dos lobbies que tradicionalmente o apoiavam. A faceta de «freedom fighter» foi-se desvanecendo progressivamente, dando lugar à imagem de um déspota, sobretudo preocupado em se manter como o todo-poderoso da UNITA.
Celso Filipe, Diário Económico, 12 Abril 2002

Os Flechas atacam de novo 

Este livro é a passagem, segura e indignada, da crónica dos nossos dias a um tempo maior que é já História, momento grande da escrita de um repórter que, pela sua coragem e honestidade, pelo seu dever de cidadão na celebração pública da nossa condição humana, soube pôr ao serviço da verdade a mais notável das armas brancas: a sua escrita – escrita testemunho, conceitos, verdade.
Neste seu livro, “Os Flechas atacam de novo”, João Paulo Guerra é sobretudo o repórter da História. Eles, são os Flechas que atacam de novo, depois de terem mudado de farda.
Miguel Serrano, O Diário, 
Dezembro de 1988

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