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Rute Santos/ I.P.P. |
Dezenas
de computadores, máquinas em tripés, gravadores espalhados pelas secretárias. O
ruído constante e a correria dos estudantes confirma o que parece impossível:
uma equipa multiplataforma funciona dentro da sala 2 do Cinema São Jorge. É
nesta sala convertida em redação que se reúnem mais de uma centena de
profissionais, professores e alunos de comunicação, responsáveis pela cobertura
do 4.º Congresso dos Jornalistas. Com um palco ao fundo e palavras de ordem
espalhadas pelas paredes, cumprem a missão proposta pelo congresso: “Afirmar o
jornalismo”.
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Rui Barros/ U.Minho |
Desde o último congresso, organizado em 1998,
o número de cursos de jornalismo cresceu nas várias universidades do país e
fala-se hoje da geração de jornalistas mais qualificada de sempre. Ainda assim,
o jornalista Pedro Coelho realça que a passagem para o mercado de trabalho
“enfrenta algumas barreiras”. Com o objectivo de reforçar a ponte entre os dois
mundos, o também professor da Universidade Nova de Lisboa aceitou o desafio de
participar na organização do congresso, assumindo que a academia não é para
“deixar de fora” e que tem de se conciliar com o mundo profissional.
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Ana Cristina Soares/ U. Lusófona |
Por
isso, a participação dos estudantes foi desde o início uma vontade da
organização. Para Pedro Coelho, não se poderia limitar ao acesso às
conferências. Foi Dina Soares, jornalista da Rádio Renascença e membro da
comissão organizadora, que lançou o desafio. “E se fossem os alunos a cobrir o
congresso?”
Teresa
Abecasis, jornalista da Rádio Renascença, ficou responsável por reunir os
coordenadores das universidades, que se mostraram “bastante recetivos” com a
colaboração. Para completar a organização do projecto, foi lançado o convite a
Francisco Sena Santos, António Granado e Luís Santos, que aceitaram ser os
coordenadores-gerais da redação.
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Pedro Afflalo – UBI |
À
medida que a ideia se foi concretizando, cresceu também o entusiasmo. Com a intenção de recriar o
funcionamento de uma redação multiplataforma, juntaram-se as secções
tradicionais de áudio, vídeo e imprensa com a presença na web. Teresa Abecasis,
responsável pelo «online», considera que a aposta no digital não podia faltar
porque “é onde as pessoas estão”.
Na
sala 2 cabem todos os tempos do jornalismo e, se de um lado da mesa se funciona
em rede, no outro escolhem-se capas para o jornal impresso todas as manhãs.
Numa altura em que se questiona o futuro do jornalismo e das suas plataformas,
Luís Santos, um dos coordenadores-gerais da redação, assegura que o papel “não
morreu” e que os estudantes devem continuar a contactar
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Zita Moura/ U.C. |
com essa vertente.
Com
as secções divididas e os respectivos coordenadores prontos para as encaminhar,
o Centro Protocolar de Formação para Jornalistas (Cenjor) surgiu como “um
parceiro quase inevitável”, explica Dina Soares. “Faz parte do percurso dos
jornalistas pelo menos uma vez na vida”. Francisco Sena Santos destaca o
trabalho feito pelo Cenjor como fundamental para “dar coesão às competências”
dos alunos que, ao longo de vários meses, participaram numa formação intensiva
de jornalismo multiplataforma.
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Inês de Oliveira Martins/ ESCS. |
Da
formação ao trabalho, faltava apenas distribuir as equipas. Os alunos puderam
escolher a sua secção de acordo com os gostos pessoais e experiência
profissional, embora tenha havido flexibilidade para experimentar outras áreas
ao longo do Congresso. Também as relações pessoais se transformaram com a “criação
de vínculos” entre estudantes e coordenadores, conta António Granado. De um
tímido “você” à familiaridade do “tu”, remisturou-se a formalidade do académico
com a descontração das redações.
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Beatriz Carneiro/ U.P. |
A
narrativa do congresso contou com a visita do Presidente da República, Marcelo
Rebelo de Sousa, e com a presença de referências do jornalismo como Michael
Rezendes, repórter norte-americano da equipa de investigação do Boston Globe
que inspirou o filme “O Caso Spotlight”. No segundo dia, a redação agitou-se
com a mesa redonda que reuniu 19 diretores dos principais meios de comunicação
e com os testemunhos de precariedade sinalizados pelo Sindicato dos
Jornalistas. Presenças como Nic Newman e Walter Dean completaram a vivência do
congresso, que combinou nacional e internacional, tradição e inovação.
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Joana Borges/ U. Católica |
Os
acontecimentos marcantes ficam registados por uma redação que também guarda as
suas histórias. Memórias de oitenta jovens que experimentaram o jornalismo,
vinte professores de dez instituições do Ensino Superior, e mais de duas
dezenas de profissionais que partilharam esse entusiasmo. Quatro dias intensos
com estudantes a correr pela escadaria do São Jorge, à procura de entrevistas
de câmara e microfone na mão, a viver e a pensar como jornalistas.
Texto e fotos do MEDIA LAB do 4º Congresso dos Jornalistas
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