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sexta-feira, 30 de março de 2018

Mafia lava dinheiro em Ilhas de Portugal

Por João Paulo Guerra,
Diário Económico, 12 de Maio de 1998

«Há elementos em Itália, designadamente na Comissão Parlamentar de que faço parte, que nos levam a concluir que em ilhas atlânticas de Portugal, como de Espanha, elementos mafiosos procedem à lavagem de dinheiro, nomeadamente através de atividades ligadas ao turismo», disse ao Diário Económico o deputado Francesco Forgione, membro da Comissão Parlamentar Antimafia da Assembleia Regional Siciliana. Posto perante a necessidade de tornar mais precisa esta afirmação, uma vez que existem dois arquipélagos atlânticos de Portugal, Açores e Madeira, o deputado italiano precisou que não se tratava dos Açores.
Forgione esteve em Portugal para participar num seminário sobre droga e lavagem de dinheiro. E os números sobre consumo e tráfico de drogas em Portugal tiraram-lhe quaisquer dúvidas: «Onde está a droga, ao nível desses números assustadores, estão sempre grandes organizações mafiosas. 


A passagem por Portugal do ‘capo’ da Mafia da Calábria, a N’dranghetta, Emilio di Giovine, é outro dado que o deputado siciliano considera do maior significado. «Um mafioso importante como Di Giovine não esteve aqui por acaso. Não tenho dúvidas que a sua presença assinala uma relação de negócios da N’dranghetta em Portugal, o estabelecimento de um circuito de tráfico que atravessa Portugal e conduz à Europa.
Na entrevista ao Diário Económico, Francesco Forgione traça o mapa do tesouro das mafias em Itália, na Europa e no Mundo, na época da globalização da economia e das novíssimas tecnologias de informação. Hoje [1998], segundo o FMI, os negócios mafiosos representam 2,1 por cento do PIB mundial.
Primeira página do Diário Económico de 12 de Maio de 1998, a entrevista segue nas páginas interiores

Deputado da Comissão Antimafia:
«O euro vai favorecer a circulação
e investimento de capitais ilegais»

As tecnologias e a globalização também mudaram a face das Máfias. Hoje, os velhos padrinhos mafiosos deram lugar a tecnocratas do crime organizado que alargaram as suas atividades e mercados, viajam pela Internet, transferem e lavam dinheiro através dois mais sofisticados meios de comunicação. Os ramos do negócio e os mercados alargaram-se. Sem deixar as velhas atividades da extorsão, do contrabando e da prostituição, as Máfias ocupam-se hoje do tráfico de drogas e de armas, de resíduos tóxicos e de arsenais nucleares. Os lucros são investidos em atividades legais, através da reciclagem do dinheiro de origem criminosa. O FMI calcula que a faturação das atividades mafiosas atinge atualmente 2,1 por cento do Produto Interno Bruto mundial, percentagem que duplica na Europa: 4,2 por cento do PIB europeu significam quatro vezes a economia portuguesa [dados de 1998].
Em entrevista ao Diário Económico, o deputado da Assembleia Regional da Sicília Francesco Forgione, eleito pelo Partido da Refundação Comunista, traça o mapa da Itália, da Europa e do mundo após a Operação Mãos Limpas. E Portugal, segundo diz, faz parte do mapa do tesouro das Máfias.
Diário Económico – A Máfia só aparece nas primeiras páginas dos nossos jornais quando há um crime sangrento, a prisão de um dirigente importante ou o envolvimento de um nome sonante em processo judicial. No dia-a-dia, o que significa conviver com o crime organizado?
Francesco Forgione – A Máfia tem duas grandes componentes: uma é a militar, a que chamamos a Ala Militar da Máfia, e uma grande componente económico-empresarial. A força da Máfia vem destes dois elementos e ainda do controlo do território, conseguido através da intimidação. Quando a Máfia não comete crimes isso não significa que não esteja forte. Pelo contrário. Quando a Mafia não exibe a sua atividade militar, isso significa que nesse momento concentra a sua atividade sobre o terreno económico e financeiro. Para nós conviver com a Mafia significa combater estes dois aspetos. Evitar que a potência militar, os homicídios, a intimidação, ameacem as instituições e o Estado e, ao mesmo tempo, combater as atividades e os negócios ilegais da Mafia.
DE - Na época da globalização da economia o que é a Mafia? Um fenómeno também ele global?
FF - Hoje verifica-se um processo de internacionalização do crime. Com a abertura dos mercados, com as novas tecnologias de telecomunicações, podem transferir-se capitais de um lado para o outro lado do mundo sem qualquer controlo. Estamos perante um processo de internacionalização do crime e de financiamento da atividade criminosa. A globalização faz assim correr o risco de favorecer um processo acelerado de acumulação de capitais de origem criminosa sem qualquer poder de controlo por parte do Estado e por parte das organizações supranacionais. As novas formas de telecomunicações tornam menos transparente as transferências de capitais. E este é um problema importante e grave até porque estão aparecendo na cena mundial novas organizações criminosas. Penso na Mafia turca, na Mafia russa e na Mafia chinesa, que encontraram formas de convivência com as organizações italianas, com o cartel colombiano e sul-americano do tráfico de droga e com a Mafia americana. Sobretudo nos países de Leste estamos perante um território que representa uma zona franca para todas as atividades ilegais, criminosas e económicas. O Leste é um mercado sem regras. É um facto novo. Se pensarmos no imenso potencial militar do ex-Pacto de Varsóvia e nos lembrarmos que hoje alguns antigos chefes militares do ex-Pacto de Varsóvia dirigem organizações criminosas, teremos a medida do gravíssimo problema que enfrentamos. Esse imenso potencial bélico e nuclear está hoje nas mãos de organizações criminosas que, através da 'Ndranghetta e da Cosa Nostra, colocam no mercado esse potencial. No mercado e em cenários de guerra...
DE - Concretamente, onde?
FF - No Sul da África, no Sul da América e em certos países do Médio Oriente onde se registam conflitos regionais. A possibilidade de vender esses materiais nucleares corresponde à possibilidade de os utilizar. A globalização abre os mercados e favorece um novo circuito económico.

A Europa dos padrinhos
DE - Recentemente foi divulgado o relatório da Unidade Anti-Fraude da Comissão Europeia que revela que dezenas de organizações de carácter mafioso se apropriaram de milhares de milhões de ecu's desviados dos cofres comunitários. Esse é também um campo de atuação das Mafias?
FF - A atividade e a faturação das atividades criminosas no mundo é quantificada pelo FMI em 2,1% do Produto Interno Bruto mundial. Na Europa esta cifra duplica. A faturação das atividades criminosas europeias é de 4,2%. Praticamente é a soma das faturações das cinco maiores sociedades económicas europeias. Isto quer dizer que uma massa imensa de capitais ilegais entra anualmente nas economias legais. Isto condiciona todo o tecido económico. E na Europa eu creio que temos dois problemas. O primeiro é que os países da UE não chegaram ainda a uma definição comum daquilo que é o crime organizado. Em Itália existe uma lei específica que define as associações mafiosas. Creio que poderia ser o modelo para todos os países europeus. A nível europeu, a primeira coisa a fazer seria definir um direito mínimo internacional de combate às organizações criminosas, uma legislação mínima europeia, com uma definição comum.
As atividades da Mafia vão-se todas unificando. A droga, o tráfico de armas, a usura como nova forma de controlo da economia, a reciclagem dos resíduos tóxicos e nucleares, o turismo, como forma privilegiada de lavagem de dinheiro, o tráfico de obras de arte, a par das atividades tradicionais, como o contrabando, a prostituição e algumas coisas menores. A tudo isto há que acrescentar todo o sistema de lavagem de dinheiro. Na Europa não há uma legislação que preveja a transparência económica das empresas e o controlo das sociedades off-shore. Nos bancos usam-se cada vez mais as contas correntes transitórias, que se abrem e fecham sem deixar rasto. As transferências de capitais via fax e tudo o mais que as novas tecnologias permitem tornam praticamente impossível combater a lavagem de dinheiro.
Os fundos europeus, dado o seu imenso volume, despertam naturalmente um grande interesse das Mafias que têm formas de organização e de atuação e ligações que lhes permitem chegar a esses fundos antes dos seus legítimos destinatários. Seria necessário que a Europa adotasse nova legislação anti-Mafia e para isso poderia servir de base a legislação italiana.
DE - E não poderá haver um choque entre a legislação italiana e uma legislação europeia?
FF - Creio que não porque na União Europeia cresce a consciência da necessidade de adequar a legislação. Se pensarmos o que é hoje a Alemanha neste domínio... A Alemanha, que é o ponto de encontro das organizações criminosas italianas, russas, turcas e chinesas, procura construir um tecido de legalidade. E a França, com toda a sua área mediterrânica cheia de investimentos das organizações criminosas italianas? A França não pode mais tolerar que toda a zona da Costa Azul a Montecarlo seja um paraíso fiscal onde os mafiosos se estabelecem e a partir de onde alargam as suas atividades. A França tem-se manifestado francamente preocupada com tal situação.
DE - Agora, na perspetiva do euro, que irá mudar e em que sentido?
FF - O euro pressupõe a unidade dos capitais e da sua circulação, o que favorecerá também a circulação e o investimento dos capitais ilegais. Os países europeus, para além do Tratado de Schengen e dos acordos policiais, devem adotar instrumentos para a transparência do controlo de capitais, sabendo que os paraísos fiscais não são mais as Caraíbas, a Costa Rica, o Panamá. Temos também paraísos fiscais no coração da Europa. Porque a Suíça, o Liechtenstein, o Luxemburgo, algumas ilhas espanholas e portuguesas são isso mesmo. E se a União Europeia favorece ao nível económico o nascimento de áreas da Europa destinadas a serem zonas francas, esse processo objetivamente favorecerá o investimento de capitais criminosos.        

A Mafia não tem ideologia
DE - Devemos falar de Mafia ou de Mafias?
FF - Em Itália falamos de Mafias, no plural. Essencialmente trata-se de quatro Mafias: A Cosa Nostra, na Sicília, a Camorra, em Nápoles, na Campânia, a 'Ndranghetta, em Reggio di Calabria, e uma nova Mafia, a Sacra Corona Unita, nascida na fronteira com a Albânia, que se dedica particularmente ao tráfico de material nuclear proveniente do ex-Pacto de Varsóvia. É uma Mafia particularmente perigosa, jovem e muito forte.
DE - Em Itália, e na Sicília mais concretamente, em que ponto está o combate anti-Mafia, passada a Operação Mãos Limpas?
FF - É uma situação muito difícil. Graças à magistratura obtivemos muitos resultados, foram capturados muitos mafiosos, muitos processos estão ainda em curso e alguns deles muito importantes. Basta pensar no processo de Giullio Andreotti, sete vezes presidente do Conselho, no processo contra quatro ministros de governos italianos ou contra o número dois dos serviços secretos italianos. A justiça chegou aos níveis mais elevados do poder e descobriu as ligações entre a Mafia e as instituições. A Operação Mãos Limpas pôs em evidência o sistema de corrupção entre a política, as empresas e as instituições.
Agora, o problema que se debate em Itália é superar essa situação de emergência e estabelecer uma legislação normal de combate à Mafia. Mas agora certas forças políticas – eu direi as forças políticas de Direita - querem propor uma amnistia para os que foram abrangidos por processos relativos ao financiamento dos partidos. E o debate no âmbito da reforma constitucional centra-se no modo como a magistratura deve permanecer como um organismo autónomo, independente do poder político. Sobre isto há um contraste muito acentuado entre as diversas forças políticas. Aparentemente é um contraste sobre o problema da justiça. Mas na base estão interesses materiais e estão alguns processos em curso. Em Julho [1998] inicia-se o julgamento do processo contra o ex-presidente do Conselho Sílvio Berlusconi. Um dos dirigentes máximos das empresas de Berlusconi tem um processo em Palermo por associação mafiosa. Em suma, o debate sobre a justiça está muito ligado a interesses materiais de forças políticas que constituem uma expressão direta do sistema de negócios e da economia da corrupção.
No Parlamento italiano há também uma proposta para acabar com a colaboração dos «arrependidos». Atualmente há cerca de mil detidos em regime de isolamento. Muitos deles seriam postos em liberdade se tal proposta viesse a ser aprovada.
DE - O novo quadro político em Itália alterou o poder eleitoral da Mafia?
FF - A Mafia não tem ideologia. A Mafia só tem como ideologia a riqueza, o lucro, a acumulação rápida. E procura agora que se defina melhor o cenário político italiano por forma a encontrar novos interlocutores. Digamos que a Mafia procura os parceiros políticos que possam tornar-se-lhes úteis. Em palavras, todas as forças políticas são anti-Mafia. Mas alguns partidos batem-se no Parlamento pela revogação de toda a legislação aprovada após os assassínios de Falcone e Borsellino. E isto, de facto, representa um pacto político. Porque se se revogar essa legislação, a Mafia reassume o seu poder de condicionamento do território, muitos mafiosos sairão em liberdade e, sobretudo, a magistratura perde o poder e os instrumentos para intervir autonomamente no combate à Mafia.

Portugal nos caminhos do crime organizado
Durante a sua estadia em Portugal, Forgione tomou conhecimento de «números assustadores» sobre o consumo e o tráfico de droga. A sua experiência leva-o a dizer que «onde está a droga, a esse nível, estão necessariamente grandes organizações criminosas internacionais».
«Portugal - adianta Forgione - é uma grande porta de acesso do Atlântico, autónoma, ao tráfico dos cartéis sul-americanos». Para Forgione, como para a comissão parlamentar anti-Mafia de que faz parte, a questão está em saber «se as organizações criminosas que operam em Portugal têm ou não relações com a Mafia chinesa, através de Macau, outro paraíso fiscal, para além das ligações com as organizações italianas».
Em Portugal foram já referenciadas atividades da Cosa Nostra, como as 'famílias' de Cinisi e a Santa Maria de Gesú, e mais recentemente da Mafia de Reggio Calábria, ligadas ao contrabando de cigarros, ao tráfico de droga, de armas e à lavagem de dinheiro.
A prisão e o julgamento em Portugal, em Julho de 1995, de Emilio di Giovine, 'capo' da Mafia calabresa, é uma pista importante para Francesco Forgione. «A 'Ndranghetta, atualmente, é mais forte que a Mafia siciliana. A Cosa Nostra teve muitos arrependidos que colaboraram com a justiça o que levou à destruição da sua componente militar», diz Forgione. O deputado siciliano acrescenta que «a Mafia calabresa, por estar estruturada em bases familiares, tornou mais difícil a colaboração com a justiça. Cada um que colaborasse com a justiça teria que denunciar o pai ou um irmão. Assim a Mafia calabresa não teve um processo de crise na sua estrutura, que se baseia na 'omertá', a conspiração do silêncio, e é muito forte».
Para Francesco Forgione, «um 'capofamiglia' tão importante como Emilio di Giovine não esteve aqui por acaso». E o deputado não tem dúvidas «que a sua presença no Algarve assinala o estabelecimento de uma relação de negócios da 'Ndranghetta em Portugal, um circuito de tráfico que conduz a Itália e à Europa em geral». 

O Polvo


             Já vai longe a época dos padrinhos e dos «homens de honra», quando Don Caló dirigia a Mafia siciliana e conspirava com as forças de libertação da Itália no final da guerra.
Hoje, diz Francesco Forgione, «um 'capo' da Mafia é um homem elegante, com uma mala diplomática onde transporta o computador, e todo um sistema sofisticado de comunicações, ligado à Internet. Seguem-no três homens, armados, prontos a defender o que o 'capo' transporta na mala: o sistema de negócios, circulação de capitais, investimentos de um lado ao outro lado do mundo, e de relações com a política e as instituições económicas e financeiras».
A força da Mafia radica num país, a Itália, e dentro do país em toda a região do Sul. Os tentáculos do Polvo estendem-se por todo o mundo. «Sem o controlo de um território, das atividades económicas, financeiras, comerciais, políticas, não haveria força contratual a nível internacional e mundial», diz Forgione, acrescentando que «os pés estão em Itália. Mas o cérebro político e financeiro viaja pelo mundo inteiro através da Internet».   
Na sequência da Operação Mãos Limpas, cerca de mil mafiosos estão hoje [1998] sob prisão em Itália. As operações militares de grande envergadura da Mafia cessaram. Mas isso não significa que tenham sido cortados todos os braços do Polvo. Um estudo das confederações do comércio e da indústria de Itália revela que 70 a 80% da economia da Sicília é gerida por empresas ligadas de algum modo ao crime organizado. Como principais empregadoras da região, tais empresas dominam populações inteiras. E essa é a base do seu poder.
Na entrevista ao Diário Económico, o deputado Francesco Forgione revela que após a Operação Mãos Limpas novos arranjos políticos estão em preparação visando manter o poder da Mafia ou, melhor dizendo, das Mafias.

Deputato
Francesco Forgione tem 38 anos [1998], é natural de Catanzaro e foi jornalista profissional. Atualmente [1998] é deputado à Assembleia Regional Siciliana, onde faz parte da Comissão Parlamentar Regional Anti-Mafia. Eleito pelo Partido da Refundação Comunista, Forgione foi membro da direção nacional do seu partido, e responsável pela Comissão de Luta contra a Criminalidade.
A opção de Forgione marcou a sua vida numa terra onde se convive em cada dia com o crime organizado. Vive e desloca-se sob proteção policial, desde que à porta de sua casa, em Palermo, apareceu um boneco de palha, com a reprodução da sua cara, enforcado.          
Posteriormente a esta entrevista, dada em Lisboa, em 1998, Francesco Forgione foi reeleito, em 2001 e 2006, deputado da Assembleia Regional Siciliana. Posteriormente foi eleito para a Câmara de Deputados do Parlamento Italiano, chegando a Presidente da Comissão de Inquérito sobre o Fenómeno da Criminalidade Organizada e Similares. Em 2013 foi candidato ao Senado da República pela Região da Sicília e Ligúria, na lista da Sinistra Ecologia Libertà mas não foi eleito.

Francesco Forgione publicou: 

“Oltre la Cupola - Massoneria, Mafia, Política”, 1994;
 “Amici come prima, storie di mafia e politica nella seconda repubblica”, 2003;
“Ndrangheta. Boss luoghi e affari della mafia più potente al mondo”, 2008;
“Mafia export. Come 'ndrangheta, cosa nostra e camorra hanno colonizzato il mondo” 2009;
“Porto franco, politici, manager e spioni nella Repubblica della 'ndrangheta”, 2012.



A entrevista publicada no DE em 1998 tinha fotos originais do repórter fotográfico Miguel Baltazar 



Hotéis negros
John le Carré, escritor inglês de nomeada, conta no seu livro “Our kind of traitor”, publicado em Portugal pela Dom Quixote com o título “Um traidor dos nossos”, o caso dos “hotéis negros” «na Turquia, em Creta, em Chipre, na Madeira». O enredo do livro passa pela lavagem mundial de dinheiro sujo. E o autor conta como funciona a tramóia dos “hotéis negros”:

«Compra um terreno privilegiado, normalmente à beira-mar (…) Paga-o em dinheiro, constrói uma estância turística de luxo com um hotel de cinco estrelas. Talvez vários. Em numerário. Depois põe lá uns cinquenta bangalós de férias, se houver espaço. Equipa-os com o melhor mobiliário, talheres, porcelanas e roupa de cama. A partir daí os seus hotéis e bangalós estão lotados. Só que nunca ninguém os ocupa, percebe? Se alguma agência de viagens telefonar: lamento, mas não temos vagas. Todos os meses uma carrinha de segurança vai até ao banco e descarrega todo o dinheiro que foi apurado em aluguer de quartos, de bangalós, nos restaurantes, nos casinos, nos clubes noturnos e nos bares. Dentro de um par de anos, os seus empreendimentos estão em perfeitas condições para serem vendidos com um brilhante registo de vendas.»


Claro que isto é ficção. Carré sisses!

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