Por João Paulo Guerra, Diário Económico, Abril de 1999
António,
filho de António de Oliveira e de Maria do Resgate, nasceu em 1889. No mesmo ano, nasceram D. Manuel II,
Charles Chaplin e Adolfo Hitler. Nesse ano foi inaugurada a luz elétrica, na
Avenida da Liberdade, em Lisboa; em Paris ergueu-se a Torre Eiffel; no Brasil
foi proclamada a República. Salazar nasceu no ano em que Van Gogh pintou «A
Cadeira».
Concluída
a escola primária, António foi internado no Seminário de Viseu, de onde só saiu
aos 18 anos. Com essa idade, subiu D. Manuel II ao trono. Foi no ano em que se
realizou em Lisboa o I Congresso do Livre Pensamento. Também em Lisboa foi fundado
nesse ano o Benfica e José Malhoa pintou «O Fado».
Licenciado em Direito e livre do serviço militar, António Salazar ficou como assistente na Faculdade, em Coimbra, doutorando-se depois em leis e ciências económicas, em 1917. Foi no ano da Revolução de Outubro e das Aparições de Fátima. Nesse ano, a palavra surrealista entrou no vocabulário das ideias.
Chamado
ao governo, logo após o golpe militar de 28 de Maio de 1926, Salazar deixou o
ministério ao fim de pouco tempo. Dois anos mais tarde voltou, para ficar 40
anos. Salazar descobriu a mezinha para a contabilidade pública no ano da
descoberta de penicilina. Nesse ano, Kurt Weil compôs a «Ópera dos 3 Vinténs» e
Walt Disney desenhou, a cores, o primeiro Rato Mickey.
Desenho de João Abel Manta |
Quatro
anos mais tarde, Salazar subiu à chefia do governo. Foi no ano do «Vampiro», de
Carl Dreyer, e da descoberta do neutrão. Trinta e seis anos mais tarde, no ano
da Primavera de Praga, do Maio de Paris, e do Álbum Branco dos Beatles, quando
ainda fazia planos para o futuro, Salazar caiu de uma cadeira quando lhe
tratavam dos calos, e foi substituído, sem o saber, por Marcelo Caetano. Segundo
o jornalista Roland Faure que entrevistou Salazar, L’Aurore, 6 de Setembro de
1969, “os que o rodeiam velam para que seja mantida a ilusão, ou melhor: uma
verdadeira cumplicidade feita de respeito, de gratidão, de fidelidade
estabeleceu-se entre as mais altas figuras do Estado”. Para Salazar, Marcelo
Caetano continuava a ensinar Direito na Universidade, era ambicioso e não fazia
parte do Governo.
António de Oliveira Salazar morreu em
27 de Julho de 1970, convencido que continuava no poder, e está sepultado no
cemitério de Santa Cruz do Vimieiro, em Santa Comba Dão.
A
paz dos cemitérios
Adelino Gomes e João Paulo Guerra, Tempo
Zip, Rádio Renascença, Julho de 1972
Dois anos após a morte de Salazar, dois jornalistas portugueses, Adelino
Gomes e João Paulo Guerra, visitaram o cemitério de Santa Cruz do Vimieiro e, à
conversa com o Sr. Vicente, o respetivo coveiro, ficaram a conhecer melhor a
realidade de um país mergulhado na ordem e na paz dos cemitérios. A mentalidade
da ditadura rural que atrasou e reprimiu Portugal ao longo de meio século
estava ali, ao vivo no cemitério do Vimieiro, debaixo daquelas pedras
tumulares. O Sr. Vicente tinha conhecido Salazar em vida. Recordava-se dos seus
passeios, sozinho entre os pinhais.
A Censura, que por vezes andava distraída, deixou passar a entrevista que
foi para o ar na Rádio Renascença, em Julho de 1972. Por acaso ou não, menos de
um mês depois, porém, os programas da RR para os quais trabalhavam os dois
jornalistas foram suspensos pela Secretaria de Estado da Informação.
-
Coveiro - De onde são, se podem dizer? De onde são?
-
Adelino
Gomes - De Lisboa.
-
Coveiro - De Lisboa? Ainda cá não estiveram vez nenhuma?
-
Coveiro - Então, eu gosto de explicar é a pessoas que
ainda cá não estiveram vez nenhuma. Pois a dele é esta. Aqui é uma irmã, Dona
Elisa, morreu há dez anos, ali é o pai, lá adiante é a mãe, ali é um cunhado e
lá adiante é um sobrinho e afilhado do senhor doutor Oliveira Salazar, ou seja,
pai e filho. Tem três irmãs vivas. Uma é viúva, que tem aqui o marido. Para
essa viúva tem uma pedra guardada da parte de lá daquele portão, as pedras
brancas, as que estão encostadas ao muro. É tal e qual aquela do marido. Tem
mais duas irmãs solteiras, para essas duas irmãs solteiras tem estas duas pedras
guardadas para elas. É tal e qual estas duas pedras que estão aqui. O senhor doutor Oliveira
Salazar...
-
Adelino Gomes - Foi ele que as mandou guardar?
-
Coveiro - O senhor doutor Oliveira Salazar mandou cortar
estas quatro pedras, estas duas que estão aqui e aquelas duas que estão acolá,
mandou-as cortar na Quinta que era dele em Óvoa, mandou-as cortar, mandou-as
arranjar e mandou-as pôr aqui. Conforme vão morrendo assim se vão empregando as
pedras. Assim como a dele esteve ali quinze anos, que ainda se conhece acolá na
cal, até que se empregou a pedra. Pois isto era terreno deles, aqui o cemitério
assim como este pinhal que está aqui. Aquele muro que lá está adiante estava
aqui encostado a estas tampas, virado àquela tampa de ferro lá em cima. Do muro
para cá, quando ele cá estava, tudo isto era terreno deles. E eles deram este
terreno para a Câmara fazer o cemitério. E um dia, mais tarde, o senhor doutor
Oliveira Salazar comprou este pedaço até ali à rua, até ao portão, para ele e
para a família. Primeiro deram o terreno e depois compraram-no. Não é que não
lho quisessem dar mas o homem não quis. E aqui está este grande homem debaixo
das pedras. As irmãs que são solteiras continuam esta carreira, que é a Dona
Marta e a Dona Leolpodina. Como o senhor doutor Oliveira Salazar era solteiro e
como tinha mais duas irmãs solteiras determinou cortar estas quatro pedras
iguais para continuar a carreira dos solteiros. A Dona Laura, que é viúva, que
tem aqui o marido e tem a pedra dela da parte detrás do portão, nem que seja
das últimas a morrer o lugar dela está em aberto para ficar ali ao lado do
marido. Depois, têm um filho, o doutor António. Como tem cinquenta e tal anos e
está solteiro, o tio já cá mandou pôr a pedra a contar em ficar aqui nos
terrenos dele. E esse senhor tem mais duas irmãs, mas para elas não mandou cá
pôr pedras nenhumas porque são casadas. Vão depois para onde os maridos
quiserem. O senhor doutor Oliveira Salazar está da seguinte forma: tem dois
bancos debaixo da urna, da parte de cima da urna tem três tampas. Uma é em
cimento, está toda encimentada em cima dos muros. Tem outra de aço, abraçou a
de cimento e é toda chumbada em toda a roda por causa da humidade não entrar lá
dentro. Para segurança tem uns parafusos em toda a roda e depois é que botaram
umas pazadas de terra entre a de aço e entre esta para esta ficar assente em
terra, que é para igualar os pais. Mas os pais não estão assim. Os pais
começaram a botar terra em cima da urna até cá acima. Só têm é unicamente as
pedras. E o senhor doutor Oliveira Salazar está assim porque a última irmã que
morra está previsto que o tiram daqui para Lisboa porque um homem deste valor
não pode ficar aqui toda a vida. Por isso mesmo ficou diferente dos pais e vem
embalsamado e em caixão de chumbo para um dia o poderem tirar daqui para
Lisboa.
-
Adelino Gomes – O senhor é de cá?
-
Adelino Gomes - Nasceu cá, foi?
-
Coveiro - Bem, quer-se dizer, o senhor falou assim por...
-
Adelino Gomes - Por saber tanta coisa.
-
Coveiro - Os senhores não são de cá, de Santa Comba Dão?
-
Adelino
Gomes – Não, não.
-
Coveiro
- Ah pois.
-
João Paulo Guerra - O senhor conheceu-o?
-
Coveiro - Ah, então ainda falei algumas vezes com ele,
homem. Isto era um homem simples, um homem popular, um homem que não tinha
vaidade nenhuma, tanto falava para o pobre como para o rico.
-
Adelino Gomes - O senhor trabalhou para ele?
-
Coveiro - Nunca trabalhei para ele. Quer-se dizer, eu
antes de estar aqui era cantoneiro da estrada de Santa Comba Dão, da Câmara de
Santa Comba Dão, e por acaso, por acaso até o conhecia e falei com ele porque
foi o seguinte. Eu tomei conta de uma estrada que passa no meio da Quinta de
onde vieram estas pedras e por sorte essa estrada calhou-me a mim, não é? E
conheci-o por causa disso. Bem, eu sou de cá mas não tinha assim confiança com
ele, não tinha nada, não é? Mas como eu lá trabalhava na estrada, um belo dia,
até vou contar uma que me aconteceu. Um belo dia, como era a primeira vez, este
homem ia pela estrada fora, sozinho...
-
João Paulo Guerra - Ele costumava passear sozinho?
-
Coveiro - Sozinho, pela estrada fora. Mas a polícia ia
longe dele, lá nos pinhais, uns do lado e outros do outro.
-
Adelino
Gomes - A vigiar?
-
Coveiro - A vigiar mas longe, longe.
-
Coveiro - Longe, longe. Este homem ia encostado a uma
cana, da India, assim desta altura. Isto já foi há uns quinze anos talvez. E
quer-se dizer, este homem quando apareceu numa curva da estrada eu, como era a
primeira vez, custou-me aquilo imenso. Ai... lá vem o Salazar. Fiquei assim
temido. Ai... lá vem o Salazar. Ai... E fiz aquela coisa até para me ir
esconder lá dentro de umas mimosas. Temi-me, fiquei assim temido. E depois digo
assim: Então vou-me eu esconder se o homem já me viu - eu a falar lá com os
meus botões - eu hei-de esconder-me se o homem já me viu? O homem até há-de
julgar que eu que me escondo até para fazer qualquer maroteira. Eu a lembrar-me
disto tudo. E depois o homenzinho foi indo, foi indo, até que chegou lá perto
de mim e eu saí do meu trabalho, aí retirado uns quatro metros, saí de lá para
o meio da estrada e cumprimentei-o: Passou bem, senhor doutor? «Bem. Como
está?» Depois meteu ele conversa. «Então o senhor anda a zelar a estrada?» É verdade, senhor doutor. «Tem que ser,
faz favor de continuar» e assim, «porque a duração de uma estrada é as
limpezas» e assim e assado. Bem, com muita conversa. No fim dele se ir embora
digo eu assim: Ora vejam lá, eu com tanto medo do homem, com tanto receio, e o
homem ainda a puxar conversa.
-
Adelino Gomes - Então e o senhor veio para aqui, para o
cemitério, porquê? Para
ganhar algum dinheiro?
-
Coveiro - Não. Eu sou empregado da Câmara.
-
Adelino Gomes - E está aqui mandado pela Câmara?
-
Coveiro - É isso. Eu sou empregado da Câmara. Quem faz
aqui o trabalho do cemitério sou eu. Quem arranja o cemitério, quem varre isto
tudo sou eu.
-
João Paulo Guerra - Estes versos aqui em cima da campa...
-
Coveiro - Isso veio de Lisboa.
-
Coveiro - Por acaso nunca fiquei a saber. Sabe porquê?
Porque nem ele se assinou aí e por sorte o homenzinho entregou-me isso e por
sorte chegaram aí umas outras visitas e eu comecei a falar lá com essa visitas
e o homenzinho foi-se embora sem eu lhe perguntar o nome.
-
Um popular – Vicente, olha os bilhetes.
-
Coveiro – Isto aqui não há bilhetes. Se dão alguma coisa
é porque querem.
-
João Paulo Guerra - Vem cá muita gente?
-
Coveiro - Vem cá muita gente mesmo.
-
Adelino Gomes - Também vêm cá estrangeiros?
-
Coveiro - Vêm, vêm, muitos estrangeiros.
-
Adelino Gomes - Está bem, está bem. Então e onde é que o
senhor aprendeu aquilo que nos disse? A lenga...
-
Coveiro - Onde é que aprendi? Quer-se dizer, a família
copiou umas certas coisas, porque já se vê que eu não adivinhava essas coisas,
não é? E
depois aprendi. Estudei e aprendi.
-
Um popular – E o senhor diz que isto está tudo em betão. Para quê?
-
Coveiro – É para conservar. Para mão deixar entrar a
humidade.
-
O popular – Ouvi dizer outro dia em Paris que ele já cá
não estava. Que
o tinham levado.
-
Coveiro – E então eu estava a qui a guardar o quê?
-
O popular – Também disse que estava aí a Guarda
Republicana.
-
Coveiro – Estiveram cá oito meses. De noite e de dia.
-
Outro popular – Agora já ninguém o quer.
-
Coveiro – Agora só vêm aí é rondar de noite.
-
O popular – Mas desconfia-se que venham cá buscá-lo?
-
Coveiro – Não. Foi o Rádio Moscovo que anunciou qualquer
coisa, que o queriam ver roubar.
-
O popular – Mas para que é que o queriam levar? Que ideia
é que tem o senhor?
-
Coveiro – A minha ideia não é nenhuma. Eu estou aqui para
ganhar o meu dinheiro, a minha ideia não é nenhuma. Mas diz-se que só lhe
queriam levar a cabeça que é para estudarem nela.
-
Populares
(risos) – Para estudarem?
-
Coveiro – Como era um homem muito inteligente. Mas a
gente sabe lá a ideia de cada um. Mas as coisas são como são.
-
Outro popular – E não está aí reservado um lugar para a
governanta dele?
-
Coveiro – É porque ela não quer vir para cá. Ainda ontem
ela cá esteve e falou nisso. Mas
ela quer ir é para a terra dela.
-
Coveiro – Vem, vem. Esteve cá ontem.
-
João Paulo Guerra – E onde é que ela mora?
-
Coveiro – A terra dela é ao pé de Coimbra. Mas
compraram-lhe um andar em Lisboa.
-
João Paulo Guerra – Quem é que comprou?
-
Coveiro – Não sei, não sei quem comprou. Havia de ser o
Governo, pois então. Juntaram-se e compraram-lhe aquele andar de uma casa. E
puseram-lhe uma tença sinha e lá está a viver.
-
Um popular – O que me disseram é que ela queria ficar ao
lado dele.
-
Coveiro – Não, não. Isso é mentira. Ao lado dele, em
qualquer altura, sabe quem é? É
a irmã, a Dona Marta.
-
Adelino Gomes – Ele casou-se com ela?
-
Coveiro – Não chegou a casar com ela, porque ela até já
disse que não chegou a casar.
-
João Paulo Guerra – Mas como é que sabe?
-
Coveiro - Eu tive o arrojo de lhe perguntar essas coisas
para não estar aqui a mentir ao povo.
-
Adelino Gomes – E ela disse que não?
-
Coveiro – Ela disse que não. Esse boato correu do Brasil
para cá.
-
João Paulo Guerra – Pois isso veio num jornal brasileiro,
que eles se tinham casado.
-
Coveiro – Pois e depois espalhou-se para cá, que casou,
casou. Não casou nada. Bom. Casou lá de outra maneira, pronto. Lá se arranjou,
porque ele era homem como a gente. Uma mulher que está a acompanhar um homem 50 anos…
-
Adelino Gomes - Pois, está bem.
-
Adelino Gomes - Bom, vamos andando? Olhe, faz favor...
-
Coveiro - Muito obrigadinho, saúdinha é o que se deseja,
boa viagem.
-
João Paulo Guerra - As pessoas quando vêm cá costumam
dar-lhe alguma coisa?
-
Coveiro - Uns dão, outros não dão.
-
João Paulo Guerra - E quanto é que faz com essas
gratificações?
-
Coveiro - Então, isto não é uma coisa certa. Porque eu
não posso pedir a ninguém. Se quiserem dar, dão. Quando os senhores estavam
aqui não estava aí uma gente? Foram-se e não deram nada. Se querem dar, dão.
-
Adelino Gomes - Então e quanto é que o senhor recebe da
Câmara?
-
Coveiro (baixando a voz) - Sabem quanto é que é o meu
ordenado? São 53 escudos. Se não é verdade, eu não saia daquele portão para
fora.
-
Adelino Gomes – Então e o senhor está para aqui a dizer
todas estas coisas e a servir os interesses deles e a ganhar tão mal?
-
Coveiro – Então, eu antes de estar aqui, era cantoneiro,
já contei. E
o meu ordenado era esse na mesma.
-
Adelino Gomes – O senhor nunca disse ao Salazar para ele
o aumentar?
-
Coveiro – Ele, coitado… As coisas lá no tempo dele também
não estavam como estão hoje.
-
Adelino Gomes – Mas havia muita gente que ganhava muito
bem.
-
Coveiro – Ah, pois. Lá os… Bom, para não falar de outra
maneira, lá os da gamela. Para
não dizer outra coisa.
-
João Paulo Guerra - E estas flores aqui, quem é que as
pôs?
-
Coveiro - Isto é tudo visitas.
-
Adelino Gomes - Vêm cá mais mulheres ou homens?
-
Coveiro - É um pouco mais ou menos…
-
João Paulo Guerra - E pessoas conhecidas, não costumam
vir?
-
Coveiro - Pois então não costumam?! Pessoas importantes.
-
João Paulo Guerra - E o senhor conhece algumas delas?
-
Coveiro - Ora bem, umas conheço, outras não conheço.
-
Adelino Gomes – O Dr. Paulo Rodrigues, costuma vir cá?
-
Coveiro
– Quem?
-
Adelino Gomes – O Dr. Paulo Rodrigues, aquele que era
secretário de Estado, um assim de óculos, que chorou muito no funeral?
-
Coveiro – Talvez viesse mas foi só no princípio.
-
Adelino Gomes – Agora, já não? Já não precisa.
-
Então, é assim. O senhor está a falar bem.
-
João Paulo Guerra - Quem é que vem cá mais vezes, que o
senhor conheça?
-
Coveiro - É uma senhora que até o homem era lá qualquer
coisa lá no Estado e assim. Essa senhora vem cá muita vez. Quem diz essa diz
outra que é de… Que
é de ao pé de Lisboa. De Sintra.
-
Adelino Gomes – Então e gente nova não vem?
-
Coveiro – Vem mas é só de visita.
-
João Paulo Guerra – E o senhor almirante Tomás, não vem
cá às vezes?
-
Coveiro – Por acaso só veio cá quando ele faleceu. Depois não voltou cá.
-
Adelino Gomes – E o Tenreiro?
-
Coveiro (baixando
a voz) - Um que veio cá foi o doutor Marcelo Caetano quando fez um mês.
Assistiu aí a umas missas e assim e veio juntamente a Legião Portuguesa
acompanhá-lo até aqui. Até deixaram aqui uma cruz que até a tenho acolá, numa
casa.
-
Adelino Gomes - Então não a pôs aqui?
-
Coveiro - Esteve cá muito tempo. Mas as pessoas, a
família, começaram a dizer que uma coisa estando cá muito tempo que parece mal,
que se torna aborrecido e vergonhoso e assim e eu tive que a tirar.
-
Adelino
Gomes - Ah sim?
-
Coveiro
– É assim.
-
Adelino Gomes - Bom. Então, vamos andando.
-
João Paulo Guerra - Vamos andando. O senhor já tem aqui…
mais clientes.
Adelino Gomes e João Paulo
Guerra, Tempo Zip, Rádio Renascença, Julho de 1972
Sem comentários:
Enviar um comentário